As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Tuesday 26 August 2008

Quem conhece o seu passado, conhece o seu futuro

Quando eu nasci, subiu um anjo que me disse o que se ia passar na minha vida, que me anunciava os dias de amanhã.

Deus olhava.

Cresci para duas pessoas que me chamavam de filho e que me fizeram crescer da forma mais cruel, da mesma maneira com que eu forço as pessoas que quero que cresçam. Fizeram-me de mim aquilo que eu quisesse.

Enquanto Deus olhava.

Fiz amigos, virei-me contra a família e encontrei refúgios desleais. Troquei família por amigos. Aqueles que, ao contrário da família, "podemos escolher".

E hoje estou com Deus. Ele está comigo e eu com ele. Somos a mesma pessoa. Ele relembra-me a conversa do anjo. É o momento de ruptura, de separação.

Amanhã vou trocar os amigos que ganhei, vou perder aqueles que gostavam de mim por estatísticas e audiências. Vou ganhar falsos amigos que farão tudo para me agradar.

E Deus não olhará mais.

Depois vou experimentar, experimentar, desrespeitando o meu corpo, a minha mente e o meu nome. Vou acabar sozinho, no meio desses meus novos amigos, sedentos, que me consumirão nos meus apogeus de fraqueza. Serei consumido pela minha própria ambição.
Perderei tudo para todos e de mim só ficará... não ficará nada.

Deus já se tinha ido embora.

E eu que tudo tive - que fui avisado por um anjo logo quando nasci - acabarei na miséria por ter escolhido um caminho que não foi feito para mortais, como eu. E estou na fase de ruptura, de separação. É aqui que posso fazer a diferença, que posso evitar o que já foi dito.

Mas por querer ser Deus, vou seguir em frente e fazer todos os erros que me vão definir. Posso ter nascido prisioneiro, mas hei-de morrer livre!

Friday 22 August 2008

Tenho vindo a descobrir cada vez mais que tenho andado no optimismo negativo. O meu cinismo filosófico e confiante é de raízes tramatizadas e não por causa do conhecimento. Sinto que ando à procura da definição da minha maneira de ser e que não procuro o que defino. Isto é basicamente o meu ponto fraco que se poderá tornar em forte, caso eu continue a conhecer, tal como já comecei.

Descobri que escrevia sempre sobre temas menos positivos, com uma forte crítica - mais de revolta interior, do que propriamente com soluções aos problemas. Bonito, mas sem charme. A elegância verdadeira está nos temas realmente positivos, naqueles em que se ignoram/esquecem os menos bons. Pensar positivo é ver coisas boas em tudo.

A tal linha ténue que separa ignorância do verdadeiro conhecimento.

E ando aqui a escrever para ninguém me perceber, porque assumo que escrevo para mim. A sociedade não pode ser mudada, não pode ser constantemente criticada, porque a maior parte das coisas nela são muito boas. Não me posso dar ao luxo de criticar tudo e todos, como se todos se tratassem de ignorantes e eu de um iluminado. Não sou melhor ou pior do que ninguém.

Não sou vítima, nem produto, muito menos um orientador. Já fui, já me senti assim. Hoje em dia, sou uma peça dessa sociedade que me comanda. Descobri que o verdadeiro caminho não é lutar, mas sim vencer pela minha integração positiva nessa massa de gente tão igual e diferente de mim.

E se ninguém percebeu o que acabei de escrever, não foi por mal. Simplesmente ignorem-me, porque esta minha pseudo-existência de quem "pensa que pensa e acha que existe" não tem um significado forte - não pode ter - para ninguém. Isto é uma luta comigo mesmo. Quero vencer-me de tal maneira que não sinta a necessidade de lutar com mais ninguém.

Tuesday 5 August 2008

Mens Sana In Corpore Sano

Deitei-me em cima dela e comecei a remar para fora. A espuma das ondas varria o inside e dificultava que eu fosse lá para fora. A primeira onda que rebentou lá ao fundo e veio arrastando-se aproximava-se. Fiz o primeiro bico de pato. Fui arrastado um pouco para trás, mas segui em frente, remando. Mais vale fazer o bico de pato e andar um pouco para trás, do que nem sequer fazê-lo. No surf, não temos muitas alternativas. Depois de várias ondas, com os ombros doridos de tanto remar, com a respiração ofegante, mas sempre em cima da prancha, consegui finalmente chegar ao outside calmo.

E tão calmo que é o outside.

O outside é o santuário de todos aqueles que aguardam que os messias venham para os purificarem. As ondas vêm como vagas de ressurreição antes da morte, como máquinas do tempo que poucos podem experimentar. Ao vir a onda, começo a remar. Remo, remo, remo e apanho... sinto que a prancha continua a deslocar-se na água, mesmo comigo tendo parado de remar. É nesta altura que me levanto e corto a onda, numa velocidade instável mas suave.

E é assim, também o levantamento do alter às 7:00, com as corridas de bicicleta matinais, os treinos de artes marciais às tardes e finalmente as duas refeições por dia, que o meu corpo volta a mudar. Fica mais forte. Mais seguro, mais saudável, mais atraente ou - deverei dizer? - menos repulsante. Tenho plena consciência que este corpo não me pertence, simplesmente pela sua efemeridade. E nem fico mais sábio por este "aculturamento" físico, muito pelo contrário - poderão dizer - que fico mais perto dos cegos que ficam hipnotizados pelos espelhos que cantam as cantigas da moda.

Eu sou fraco porque tenho um corpo.

Cuidar do meu corpo dá-me uma paz qualquer. Uma paz que, sei muito bem, não é minha. É nestas pequenas coisas que eu descubro que não gosto de mim, e cada vez menos dos outros. Mas fazer desporto e ser fisicamente é activo é uma grande paixão que só igualada a uns bons pastéis de nata, um valente cozido e uns maravilhosos batidos que engordam. Se o meu corpo fosse meu filho, eu seria um pai irresponsável. Mas os meus filhos amar-me-iam.

Monday 4 August 2008