Vivi muito, minha querida. Vivi muito.
Um dia fui jovem, um dia fui forte e ousado.
Dominava muito bem o Mundo que me rodeava e tinha tudo o que queria.
Sempre que vinha com os rapazes para uma bebida, eu bebia sempre mais, amiga.
Eu era o primeiro a beber, o primeiro a roubar as garrafas e correr para as ruas.
Gostava de me exaltar, de me mostrar, porque eu tinha de me mostrar, de partir as garrafas na rua! Parti garrafas, cuspi no chão, urinei... lembro-me de derrubar caixotes do lixo, de espalhar bem o lixo pelo chão da rua, minha companheira.
Uma vez vi um daqueles homens metidos a esperto na rua a mandar-me limpar o que tinha sujado. Ainda correu atrás de mim. Pobre coitado! - muito longe ficou ele de me tocar.
Eu uma vez desafiei o Mundo todo, eu podia, naquela altura.
Agora, estou aqui contigo, nestas ruas... Nas mesmas ruas que um dia eu sujei. Vêm ali mais rapazes... mais jovens com a nesna idade que eu tinha antes, quando era mais novo. Vêm aí para derrubar caixotes, gritar, e desafiar-nos, amiga vassoura.
Não olhes, é muito duro, é muito duro. Eu sei que devia opor-me, mas eu percebo o lado deles... E além disso eles são mais, eu já não tenho a força que tinha... Aguenta, amiga, meu amor, não olhes... Não penses no que irá acontecer. Aconteça o que acontecer, eu estarei cá para te ajudar a limpar.
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