Quantas vezes já me sentei a parei para sentir como estou. Saimos todos os dias de manhã cumprimentando todos que passam por nós. São raras as vezes que cumprimentamos o nosso ser, nós próprios, que sempre nos acompanhamos. Tantos heróis trágicos que têm um companheiro para a Viagem, mas até esses passam momentos sozinhos. E o que é estar sozinho, senão um encontro com nós mesmos? É uma missa religiosa que fazemos a nós próprios, muitas vezes para nos confessarmos, pedir conselho ou discutir algo que nos disseram e que nos marcou.
Na hora do jantar, só, pus-me a conversar comigo, a ouvir o que o meu corpo me dizia, o que o meu coração tinha visto que eu fingi não ver. Ouço água dentro de mim. Ouço corpos cá dentro a tomar banho de água quentes, relaxados, descansados e a brincar. Sinto os corpos a quererem sair para me abraçar, para dizer que me amam. Estou naquela parte da vida em que precisa mais de ouvir "amo-te" do que dizer. Para mim é demasiado fácil dizer que te amo, assumir o que quer que seja, porque afinal de contas, já não tenho nada a perder - ouço dizer de dentro de mim - porque preciso. Também ouço dizer que preciso, isso é verdade. Mas não sei o que é: se é amor, se é do passado, se é de avançar rápido para o futuro. Diz-me o mar que trago cá dentro que estou carente. E era disto que eu queria falar, era isto que eu queria dizer ao Mundo, era esta mensagem na garrafa que deu à costa que eu queria trazer à população.
Mas logo de seguida veio outra garrafa bater na areia da praia. Uma mensagem que não era para mim, mas que abri e li. Gostei do que li. Fez-me bem ler aquilo. E foi assim que o mar se voltou a agitar. Este mar de marés, que sobe e desce e, normalmente, por tão pouco. Haja piedade de nós seres que sentimos. Que ninguém domina este mar, que tantos já lá morreram, mas que pelo qual Portugal já deu novos Mundos ao Mundo. Que venha um onda e me leve com ela! Que apesar do meu signo, eu não sou peixe, eu sou um navegador e quero cair nas profundezas lutando por aquilo que defendo, como o Moby Dick.
O Homem é a Mulher. E a Mulher é a musa do Homem. Por isso, Mar, deixa as mulheres em Terra, não as leves, leva antes os homens, leva-me antes a mim!
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