As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Wednesday, 18 June 2008

O Jardim do Paraíso


Ao tropeçar nos corpos mortos, a menina tentava chegar à árvore de fruta. A árvore era não maior que uma árvore, mas era mais bonita do que uma árvore. Escolheu um fruto que parecia ser mais saboroso do que um fruto e colheu. Mordeu a fruta com uma dentada mais que dentada e a fruta estava podre por dentro. Dentro da fruta havia um lagarto que agora esperneava enquanto deitava sangue e lutava para se manter vivo.

A menina tinha sangue nos lábios. O lagarto tinha o sangue nos lábios da menina. O fruto rapidamente transformou-se em cinzas e esvaeceu-se. O lagarto foi a correr, louco, frenético e trepou de novo para a árvore mais bonita do que uma árvore. Chegou ao ramo de onde tinha sido colhida a fruta que parecia mais saborosa do que uma fruta, e foi para o lugar aonde ela tinha sido colhida. Nesse instante, o lagarto lentamente começou a mudar de cor, para uma cor saborosa, mais saborosa do que lagarto, e começou a ganhar formas estranhas, inchadas, recheadas, transformando-se finalmente num fruto.

A menina olhou à sua volta e os corpos mortos do chão tinham-se levantado. Avançavam agora na sua direcção, de todo os lados, de toda a parte. Limparam-lhe o sangue da boca e fizeram-na deitar no chão. Em seguida deitaram-se com ela, lentamente, com muita serenidade. A menina, insegura, mas pelo calor dos corpos acabou por adormecer. O seu corpo ficou frio, os dos outros também. Assim adormeceu.

Agora, a menina acordou com um pontapé na cabeça. Alguém tinha tropeçado nela. Era um menino que andava em direcção à árvore que não era maior que uma árvore, mas era que mais bonita do que uma árvore. A menina quis levantar-se, mas o seu corpo estava frio. Ela insistiu e lutava para se libertar dos outros corpos em cima dela, que também iam sendo pisados pelo menino que passava. Baixinho, a menina ouviu: "Ainda não te levantes, ainda não é tempo. Espera até ele morder a fruta."

4 comments:

Rafeiro Perfumado said...

Os sacanas dos corpos eram portugueses, sem dúvida...

Chincha said...

Está sempre alguém à espera que falhes.

Anonymous said...

Profundo Balbino! Profundo!

Espero que esteja tudo a correr bem contigo!

Abracinhos!

Victor de Freitas

...victinho said...

Profundo! Profundo! Balbino!

Espero que esteja tudo a correr bem contigo!

Abracinhos!

Victor de Freitas