O João vivia fascinado com o André, com o que ele fazia. Não percebia o que fazia o André, quieto, em silêncio, tantas horas fechado no seu quarto. Costumava passar horas e horas, especialmente nos fins-de-semana e feriados, com a porta fechada. A única coisa que passava daquela porta eram sons estranhos. De vez em quando o André levantava-se, ia à casa-de-banho, mas depois voltava para o seu quarto.
Um dia o João resolveu bater à porta. Antes de o André abrir, ele conseguia ouvir vozes de pessoas e outros sons extremamente vivos. O André abriu. Entraram os dois. O João entrou devagar, enquanto que o André dirigiu-se rapidamente para a cadeira, que estava em frente de um aparelho. O João ficou em pé a observar. Que fazes? - perguntou. Nada de jeito. - respondeu o André. O André tinha os olhos cansados, mas bem abertos. Focava toda a sua atenção no aparelho. De vez em quando carregava nuns botões. O João olhou para o aparelho e viu imensa cor. O som também era apelativo. Mas era apenas um aparelho. Um aparelho. Um aparelho. Um aparelho. O João olhou para o aparelho, para aquele aparelho. Viu a cor, a cor que o aparelho transmitia, ouvia o som do aparelho, do aparelho. Quando deu por si, estava no quarto do André a olhar para o mesmo aparelho que o ele. O João tinha acordado e tudo o que desejava menos era continuar a olhar para aquela caixa. Aquilo dava com ele em doido.
Virou então o olhar para o André. O André tinha os olhos esgazeados, hipnotizado, respondendo monossibicamente a tudo o que lhe perguntavam sem tirar os olhos do ecrã. O João via que o André não conseguia tirar os olhos dali. Sem querer, e com amor, caiu uma lágrima dos olhos do João. Escorreu pela cara estupefacta dele. Ele não tinh reacção, no entanto chorava. A seguir a essa vieram outras e outras mais. O João chorava compulsivamente, mas em silêncio. Chorava pelo André. Pelo André que tinha morrido.
Silenciosamente, sentou-se no chão de perninhas à chinês ao lado do amigo, como uma criança. Secou as lágrimas com a manga da camisola e olhou para o amigo. O amigo continuava hipnotizado. Assim, o João olhou para o aparelho e, sem o desafiar ... entregou-se. Ao princípio doeu um pouco enfrentar todo aquele som e tanta cor, mas depois... passado algum tempo... já não...
1 comment:
a mim é que isso não me mata! Nem ligo! Não há paciência... Ao menos se houvesse aqui um... "computer says no"!
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