As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Monday 27 October 2008

Monologo do Veneravel Conselheiro do Rei

Venerável Conselheiro
Com a corda no pescoço, eu, o famoso professor Catedrático assisto a esta multidão lisboeta que grita de opróbrio, encolerada pelo crime que cometi - matar o Rei. Mais uma vez, Portugal vê-se envenenado por um compatriota, completamente destruída sem sucessores ao trono. Em princípio tornará ao comando dessa grande Pátria - Espanha. A mim muito pouco me importa, nunca fui pela política. É extrema esta sensação de medo, este terror por esta multidão que se move em uníssono na minha direcção, de todos os lados, cercando-me nesta praça de onde não posso fugir, por estar dependurado pelo pescoço. Atiram-se pedras, paus, ferem-me, rompem-me a pele que se desfaz cuspindo e cobrindo-se de sangue e um suor... um suor frio... arrepiante... de pânico, de uma fobia louca. A respiração parece-me faltar. Inspiro, mas não consigo encher os pulmões, pois logo expiro em gemidos de dor, de pânico, como um corredor da maratona ou um nadador que ansia por ar. Como foi possível, como é que o conselheiro do Rei o foi trair, o seu melhor pensador, o mais instruído e sábio de todos? E a que preço, porquê? Que loucura... - Se é isto que perguntam, deixem-me então, por uma vez falar, antes de me deixar silenciar para sempre.

A verdade é que uma vez este professor, este vosso génio teve de lutar para ser português. Teve de lutar para ser um de vós, para ser o vosso orgulho. Nasci no meio de vós, mas sempre me rejeitaram. Cresci a ver o meu pai abraçado à minha mãe - não em amor, mas em ódio - espandando-a no chão, uma mulher fraca de corpo e mente que amava o seu monstro. Vi a minha mãe morrer lentamente antes de o seu coração parar - coisa que ainda não aconteceu. Mataram a minha mãe à minha frente e nada fizeram. Esse assassino ainda por aí anda chamando-me de filho, e pensando que me pode dar conselhos. Conselhos, a mim, ao conselheiro do Rei... um assassino?

Como este crime, vi muitos outros, vi tentarem matar a minha inocente criança por questões religiosas ou legislativas. Fui acusado de práticas satânicas por ter um CD de música moderna, na minha antiga escola Salesiana. Ao ver um carro patrulha fazer uma inversão de marcha numa estrada de traço contínuo à minha frente, acelerei e não dei prioridade. Como poderá um estudante ser multado por um carro patrulha acabado de fazer uma transgressão. Talvez lhes devesse ter cedido prioridade.. Por conduzir um carro sem documentos, se ele precisa dele para se deslocar, foram multar o jovem já revoltado - ainda adormecido -, enquanto os agentes da lei cheiravam a álcool e a contra-ordenações eles próprios? Por estes e muitas outras coisas que vejo, como jovens matarem a nossa Língua Portuguesa e rirem-se de desdém.

Mas eu sou a verdadeira criança, o verdadeiro patriota. Sou a pessoa que viu o mal desde cedo e se comprometeu a destruí-lo, sem nunca ter desistido deste sonho. Deste meu pesadelo, para que fosse um sonho para as nossas crianças, para que não haja o meu pesadelo para eles também. E quem governa este país, que se diz chamar Portugal? E quem deixa isto acontecer? O Rei. Então a melhor maneira de destruir o mal, é destruí-lo por dentro, fazer-me conselheiro do Rei - ainda que isso me custe longos 30 anos de estudo, dedicação e reputação. Pois muito maior é o tempo que se demora a conquistar um lugar neste país, sendo bom ou mau, apesar de nele ter nascido e a ele mostrar todo o amor e carinho. Fiz-me o melhor que podia ser, fiz-me uma referência e o orgulho deste povo aqui à minha frente que até hoje disse pertencer-me. Hipócritas. Não para comigo, mas para convosco, que cresceram com o mesmo sistema de polícia, os mesmos pais e os mesmos educadores de medo e que nada fizeram. Matei o Rei, sim, e voltaria a matar.

Não interessa se o vosso sonho é bom ou mau, mas façam por ele. Sei bem que muitos são os caminhos que nos desviam, muitas são as mãos que nos puxam e empurram neste corredor da vida. Mas nunca mudem de direcção.

(longa pausa. silênio)

Pronto... Estou pronto.

(a multidão avança para ele lentamente...)

(cai o pano)

No comments: