Sobre o ombro vê-se árvores através da janela. Ao som de épocas de pobresa miserável, rompe-se pela noite dentro com olhos e energia de quem acabou de acordar. Aquele líquido cor-de-rosa que, misturado com outras coisas, faz rir tanta gente, beijar tanta gente, conhecer tanta gente, mergulhar em tanta gente, fazer amor com os olhos e a almas de muitos outros - ainda vestidos da cabeça aos pés.
É difícil de explicar, é difícil de pintar. É uma realidade que se vê, sente-se, mas que antes de se ver e sentir já se esqueceu. Esquecer o futuro, Carlos? Sim. É viver o Presente; e o Presente apenas. Vive-se o Presente como a única Dávida (presente) desta caminhada. E nestes campos de pecado, há sempre um anjo... um anjo que cativa. Neste caso é um anjo mau: é um anjo da cocaína, do tabaco, alcool e das palavras feias. Dança-se com esse anjo, massaja-se as costas, mas nunca se o beija - e como não, se ele muito pouco se obstruiria? - porque o medo de o perder mesmo antes de o ter é maior que a vontade. E porque há anjos que nos fazem sentir deuses, todos os princípes se ajoelham. E de joelhos, de cabeça baixa, sonha-se em dormir com ele e ninguém tem coragem de O enfrentar; não por respeito, mas por medo... medo de o perder. Sonha-se longe do paraíso e através da imaginação pisa-se a relva daquele sítio aonde os fortes vivem e só fechando os olhos é que nós, os fracos, podemos caminhar em Paz.
Sobre o ombro vê-se árvores através da janela, é verdade. Nelas poderiam pousar um pássaro para nos cantar, para nos encantar... mas nem assim o viríamos. Para quê as árvores, para quê os pássaros e - como qualquer Romântico - para quê a vida? Escrever é, ainda, das poucas formas de libertação. Para aqueles que nem Presente têm e que têm de sobreviver com a única coisa que lhes deram: uma célula independente que distribui o sangue por todo o corpo e que obriga esse mesmo corpo a viver... a acartar este sonho que ninguém escolheu e que só nós temos de viver.
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