A menina do laço branco estava deitada numa cama branca, rodeada de pessoas com máscaras - todos de branco - numa sala branca. Parecia um sonho. Ela acordou daquele sonho pesado. Acordou pelas vozes daqueles que falavam alto, falavam sobre coisas, não sabia ao certo que coisas eram essas. Começou por tentar ganhar forças para se levantar e descobrir aonde estava, viu que estava fraca demais. Mesmo assim, deu para perceber que tinha um pouco de algodão no braço. Depois tentou perceber do que conversavam as outras pessoas. Ela sentia bem as intenções fluidas e vivas do diálogo, mas estava demasiado fraca para perceber do que se tratava. A cabeça estava muito cansada. Ela... dormeceu de novo.
Voltou a acordar, a menina do laço branco, desta vez com o som ensurdecedor, uma nota aguda contínua. Ela captou tudo isto com os olhos fechados, tal era o cansaço. Aquele cansaço que ela via do qual jamais iria um dia recuperar. Mas ao mesmo tempo, isso dava-lhe paz, porque de vez em quando, sabe bem deixar a vida e fazer um retiro físico e mental - era o retiro de que ela precisava. Com o som agudo, apareceram várias pessoas que batiam as portas nas suas costas, e que corriam todas na direcção da menina do laço branco. Pelo tom das vozes, pela rapidez e precisão com que falavam, mostravam tudo menos paz. E ela que só queria que eles se entregassem, fraca como ela estava. Eles param a cabeça dela, aconchegando-a mais ao quentinho. Assim podia dormir mais uns dias, sem se preocupar. Eles estavam lá para a ajudar.
Vestiram-na com roupas menos confortáveis do que aquele pijama branco com que estava. Apesar disso, ela adaptou-se logo à roupa. Porque, para dormir, só precisamos de calor. A menina do laço branco dormia sempre profundamente, apesar de poder acompanhar com os ouvidos tudo o que se passava. Deitaram-na num sítio apertado, no qual ela sentiu que era menos confortável, apesar do sono ser forte. Já não era assim tão desconfortável, afinal valia a pena o sacrifício de andar a mudar constantemente de roupas e camas. Ela, sempre com os olhinhos cansados, percebeu que a tinham coberto com uma tampa, uma tampa de algo pesado e que não deixava ouvir o que estava de fora, talvez nem mesmo eles pudessem ouvi-la do lado de fora. O som agora é nada. Para ela ouvir o que quer que fosse, tinha de se mexer. A caixa desceu envolta num laço branco que selava o seu sono para todo o sempre. Cobriram o laço e toda a caixinha aonde estava com terra, terra e mais terra.
Passaram dias e dias. A menina continuou sempre com os olhinhos fechados, sempre a descansar, a procurar sons familiares, sons que lhe dessem um conforto, que a fizessem estar mais à vontade como no sítio de onde vinha antes. Mas era absoluto silêncio. Durante esses dias, sempre foi silêncio. Ela não percebia porquê. Ela continuava muito fraca, parecia cada vez mais, como se o sonho a estivesse a tomar. Juntou a força toda que tinha e disse muito baixinho, num volume entre o murmúrio e o silêncio, Eu ainda estou viva!...
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1 comment:
não sei porque é que o comentário que deixei hoje não ficou...?
menina do laºo branco...corre tanto perigo...como todos... mas por vezes a menina do laço branco ainda é mais vulenerável. (Depois conto-te a história)
Grande texto.
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