As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Sunday, 11 May 2008

Planando

Depois de picar as migalhas do chão pude dar-me por satisfeito. Era mais uma tarde, o céu e o Sol estavam de bom humor, tal como a Terra e as pessoas. Tudo tranquilo. Comecei por bater as asas de maneira a que o meu corpo imperialmente frágil, mas veloz levitasse. Estava muito calor, muito calor. Nada como dar um passeio pelo rio, aonde a água acaba sempre por refrescar aquilo que a Natureza aqueceu.

Planando. Segui planando rente ao rio, refrescando as minhas penas brancas, ganhando uma energia que se pode tirar de tudos os lados, mas que poucos sabem como. E, oh, eu sabia tão bem. Sabia bem demais. Percebo agora que foi bem demais.

Desta vez foi com a pacífica intenção de limpar o meu corpo do suor e, talvez, dar um novo brio a estas penas que todos pareciam respeitar. Os peixes que nadassem, que viessem à superfície, porque eu, planando, ia em Paz. Exerci esta meu momento até ficar fresco. De tal maneira fresco, que senti uns arrepios pelas asas. E, para isso, não havia nada melhor do que o Sol para me voltar a aquecer. Que saudades que vou ter do Rio fresco e do Sol quente. Bati, então, as asas com força para ganhar território aonde todos podem chegar, mas tão poucos sabem como. E, oh, eu sabia tão bem. Sabia bem demais. Percebo agora que foi bem demais.

Bati as asas com mais força para chegar ao Céu. Eu estava no Céu.

Planando. Estou planando sobre o Mundo, entre a Terra e o Céu. Entre as nuvens. Planando. Com uma dor nesta asa que parou de bater. Tento bater a outra, já que a outra tem um furo feito por uma bala que continua em direcção ao Sol, cada vez mais perto. Pergunto-me até se já lá chegou, se o atingiu. Eu sei que era esse o seu objectivo, porque eu não fiz nada de mal - apenas fui apanhado no sítio errado a fazer a coisa errada em cima das pessoas erradas. Pois... percebo agora como as pessoas é que são erradas. Se calhar é mesmo verdade, se calhar eu era o alvo. O Sol era mais um pretexto. Ou se calhar o Sol nunca foi pretexto, e eu nunca soube.

Planando. Perdendo altitude, estou a desfalecer nos céus, mas ainda estou planando.

E, quando chegar ao solo, só quero estar de asas abertas para poder abraçar a Terra.

- Para a Raquel -

1 comment:

Teresa Raquel said...

Precisava de ler algo assim...

O teu voo imperial... tocas com a pontinha de uma asa no meu mar... e sabe tão bem.