As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Monday, 25 May 2009

Tu Nao Existes

Comecei por querer mudar aquilo que os meus pais criaram mesmo sem querer. A correr para longe, porque a palavra casa nao era um refugio, era uma trincheira, porque parar e morrer e o abraco do pai e um sufoco. A mae entregou-se as areias do tempo, e de tanto chorar transformou-se ela propria numa lagrima salgada que pode ser de portuguesa ou pode ser so de tristeza. Foi a alta velocidade que sai do sitio aonde ninguem me expulsou, mas tambem aonde ninguem me queria, sem amor, so terror e medo, muito medo.

Que o odio so e sentido por aqueles que amaram ate serem traidos.

Agora corro numa passadeira de ginasio, vendo a mulher a minha frente mudar de cor de cabelo, cor de pele, olhos, sorriso, sotaque, lingua, e cheiro, enquanto o meu corpo trabalha pela mente, trabalhando, trabalhando. O suor do passado sai-me dos poros do presente matando-me cansado no futuro. Alcancarei o infinito, ja que meio infinito percorri, e continuarei a correr, a correr em direccao oposta ao sitio de onde vim.

Que o infinito e um ponto que vem do nada atravessando-me em direccao a outro nada; e eu sou um ponto.

Mas levo este ponto as extremidades, como um cao preso a uma estaca num quintal, em circulos, ladrando louco e raivoso, tentando deslocar a estaca, puxando e puxando enquanto se lhe aperta a corrente no pescoco. E um monstro revoltado com a sua propria existencia, mordendo e lambendo quem lhe estende a mao, muitas vezes lambendo as pessoas erradas e outras mordendo as pessoas certas.

Esse passaro que bate as asas em direccao ao sol, que ja nem penas tem, e continua a bate-las, que sabe que vai cair como muitos outros caem a seu lado, mas que continua, continua! Porque nao precisa de penas para voar, nao precisa sequer das asas, que ele e um passaro e a sua condicao lhe basta, que o destino e urgente e as origens um inferno.

Mudam-se os beijos, o perfume da mulher na minha cama, as formas do corpo a que abraco enquanto penetro, o sabor dos liquidos que de la saem, so para mostrar que ninguem nasce virgem, que a virgindade e um estado que se alcanca com a calma e muito amor. Que a virgem com quem faco agora amor escusa mais de dormir comigo, porque ja nao tem nada a provar. Escusa de me chamar seu, ou eu lembrar-me dela quando com outras mulheres e homens durmo, deixando-me levar neste mar que me suporta massajando a minha paz interior e tornando-me forte na minha fraqueza do corpo. Que este corpo e uma ferramenta tao, mas tao fraca para aquilo que eu quero. Essa virgem nao precisa de dizer nada, porque nem aquelas palavras vao mudar a minha vontade. E nem os meus pais, os meus seguidores sanguinarios vao conseguir destruir esta vontade de que tenho de devorar a minha virgem com a mente. Nem Deus nem o Diabo multiplicados pela forca do infinito vao conseguir libertar-me desta estaca da qual o meu cao furioso ladra e ataca. O meu fiel companheiro, no entanto, ha-de continuar a puxar a corrente divina que lhe asfixia mais e mais a cada investida, contra as vontades de Deus e os seus anjos enquanto a vontade puxara de um lado e os de cima de outro. Mas todos sabemos que a vontade de Deus e mais forte e nao e pela forca desta pequena forca da Natureza ser de louvar que Ele nao acabara matando o pobre cao que sempre se recusou a ser pobre.

Esse cao ha-de ir para o ceu, ferido em forma de EU, e encontrando Aquele que domina tudo e todos dir-lhe-a olhando-o nos olhos e com a mesma forca com que comecou a corrida para longe da trincheira:



"Ainda nao acredito que tu existas!"

1 comment:

Anonymous said...

i love it when you write in english!!! :)