Da escuridão da plateia, do silêncio da escuridão, surge um gemido. Um gemido de um pai mal-tratado pela vida. Um pai que pagou o bilhete secretamente para poder ver o filho em palco. Eles não se vêem há mais de 15 anos, após uma das grandes discussões durante a juventude do agora digno e sólido actor. O filho, embrutecido por dentro, nem imagina que está a ser visto pelos olhos que o viram nascer, aprender a andar, escrever, crescer, começar a pensar, revoltar-se e fugir de casa para nunca mais voltar. O pai, na escuridão, começa a chorar, pois aquele nome que vem no programa está tão diferente. Tão crescido, tão maduro, tão seguro. Tão distante, apesar de nunca tão perto durante os últimos anos.
A peça acaba, o público levanta-se para aplaudir o elenco - todos menos um. O pai fica sentado, sufocando espiritualmente nas lágrimas que lhe pingam daqueles olhos cansados e tristes. O elenco volta aos camarins, às suas casas, às suas vidas. O público também, incluindo o corpo do pai. Naquela sala só fica o espírito do pai.
E o pai, após aquele dia, nunca mais recuperou o seu espírito de volta. Ficou naquela sala, juntamente com outras almas, de outras gentes que lá choraram pelas mais diferentes razões, nos mais variados espectáculos - momentos de magia. Só assim é que o Teatro vai ficando mais nobre, roubando as almas às pessoas frágeis, vulneráveis. Por isso, cada vez que entramos numa sala de Teatro, se ouvirmos o vento que nela passeia, conseguimos ouvir Ópera, ballet, Teatro, Magia, Magia, Magia. Porque a arte não tem preço, nem tem tempo. Mas tem lugar: o Teatro.
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