As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Friday 28 November 2008

Porquê escrever?

Começas a escrever sempre de uma forma ou de outra pela vontade e nunca sabes como vais acabar o texto. Dizes que segues o teu instinto, pensas que isso te vai fazer bem, e metes aquilo que escreves em paredes que sabes que ninguém que realmente te conheça possa ler. Falas uma língua que não entendes, e exprimes-te nela, cometendo erros sobre ti e acabas por te descrever como algo que não querias que fosse - isso leva-te à ideia inicial de "porquê escrever?".

Dás contigo a beijar o teu próprio corpo, a perder o domínio do que dizes, a masturbares-te - não pelos outros, mas por ti - e gostas. Apresentas a tua intimidade a quem não te conhece e és julgado por teres os mesmos desejos que todos. Amas-te e odeias-te ao mesmo tempo. Amas-te quando te fazem lembrar o quão especial és para mim e odeias quando todos te dizem que eu para ti não sou nada - e eu que nunca contradigo. Deixas-te jogar neste jogo do seguir o teu instinto, quando o teu instinto sou eu e só eu é que tenho a resposta, só eu é que te posso fazer mudar. Usas o verbo "amar" e "odeiar" nestes teus textos como se fossem meras palavras. São meras palavras no teu insconsciente, eu sei, eles sabem, porque também são no nosso. Mas tu sabes demais para a tua reputação, não podes afirmar tais coisas com tal liberdade.

Voa um pássaro, que de uma árvore se liberta para o céu. O pássaro cai atingido por um caçador. Aquilo que para ti é crime, para outros é necessidade. Vives num Mundo aonde não podes vencer, por eles serem demasiados contra ti, contra os teus sentimentos, contra as tuas pernas húmidas pelos meus dedos nelas, contra a tua fraqueza que aqui se liberta.

Começas a escrever - dizes tu que é instinto - mas nunca sabes aonde vais parar. O tempo não é uma força maior para ti, nem para ninguém tanto ignoísta como tu, que prefere escrever sobre si primeiro, antes de escrever sobre os outros. E os outros não são para serem escritos, mas falados, mal-falados, mal-fadados. Os outros têm de ser odiados por te odeiarem também. Mas tu, sem saberes, és mais forte do que isso e segues em frente.

"Para quê escrever?" - hás-de continuar a perguntar. E quando te queres livrar de ti procuras-me. Procuras-me a mim ou outro alguém que te faça sentir bem. Não lhe chamas alma gémea, porque o teu orgulho é mais forte que a vontade que tu tens de agradecer, de dizer obrigado por tudo - de fazeres amor. Porque tens um espelho apontado para ti, quando fazes amor com essa pessoa. Não te preocupa essa pessoa, nem o espelho, mas tu sabes que há gente atrás desse espelho - e é dessa gente que tu tens medo. E quem são eles? São eles os teus pais? Aqueles que se dizem tem amigos? Ou aqueles que te invejam e te querem destruir? São todos eles e muito menos - és tu. És tu que te vês atrás do espelho. És tu que te vês atrás do espelho. Tu és o teu espelho. Tu és o teu duplo.

Porquê escrever?


Porque se não for em letras, em palavras, em frases que podem ser usadas por qualquer pessoa porque esta língua não é minha, mas de toda a gente, não será de outra maneira. A tua voz, ainda que seja na língua, idioma, dialecto que te apetecer, será sempre tua. O teu movimento, por mais que dances e te contorças, virá sempre desse corpo que te foi dado e que agora é a tua imagem, a tua cara. E lá estás tu, continuas sem responder.

Porquê em escrita, então?
Porque é a única maneira de te exprimires sem teres de assinar.

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