As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Monday 24 November 2008

Sábado, 22 de Setembro 2008

Sábado à tarde, quero ir ao West End ver o Kenneth Branagh no Donmar, no espectáculo Ivanov (Tchekov) na nova versão do Tom Stoppard.
O Kenneth Branagh para mim é um ídolo, fez o Hamlet pela Royal Shakespeare Company com apenas 18 anos - eu não estava lá para ver, mas vi o filme "Hamlet" que ele dirigiu e protagonizou anos mais tarde. O Sir Tom Stoppard é checo, mas veio para Inglaterra nos seus vinte anos e agora é um dos dramaturgos mais conceituados no Mundo - a rainha gostou dele e nomeou-o cavaleiro da corte. O Tchekov é um bacano. O West End é uma zona do tamanho do Bairro Alto, Princípe Real e Rossio, só com teatros - os mais conceituados do Mundo com os espectáculos, dos mais comerciais aos mais recomendados pela qualidade artística. Nisto, há um (alguns) problema(s): os bilhetes estão esgotados há um mês, o espectáculo sai de cena no próximo fim-de-semana, os bilhetes andam à volta das 30 libras e os mais baratos são em pé por £10. Mas eu quero ver o Kenneth Branagh, na mesma, por isso mando uma mensagem ao Stuart que disse que queria ver também e, apesar das condições, ele aceita encontrar-se comigo às 17:30 - de acordo com o relógio da estação, ele chegou a correr, exactamente às 17:30:37, a pedir desculpas pelo atraso. Este é o típico inglês, pontual e bem-educado. E se acham que isto é que é pontualidade, que é feito do português que estava lá às 17:18? (risos) Ok, voltando à história.

Eu não sou propriamente um gajo rico, nunca fui, e agora que já me mentalizei dos meus limites, resta-me usar a astúcia para conseguir o que quero com os recursos que tenho. O metro ida e volta de Debden para Leicester Square é cerca de 11 libras. Pois, está bem - é nestas alturas que se vê quem é que é português. Tenho ainda a alternativa de comprar um bilhete de criança por 2 libras, se eu for apanhado, levo multa na mesma; mais vale ir "ao pica". Passo o portão das bicicletas para dentro da estação, sem passar qualquer título de transporte, e temos o Balbino a andar no metro de Londres à pala (é nestas alturas que tenho orgulho de mim).

Entramos no metro, eu e o Stuart, e começamos a conversar sobre teatro, espectáculos, de onde vimos, o que procuramos em Londres e o que sabemos sobre o Kenneth Branagh. Eu e o Stuart não nos conhecemos muito bem, mas andamos na mesma escola - apesar de ele ser BA Acting e eu BA Contemporary Theatre, numa escola onde não há competição; mas simbiose - e somos os dois gajos muita bacanos. Lá estou eu a dizer a falar de Descartes, Nietzsche, Stanislavski e Grotowski, e ele a falar da namorada que deixou em Cambrige e que quer levar a ver o Phantom of The Opera. Como eu já fui ver o Phantom com a minha, dou-lhe algumas dicas: "It's a very glamourous show, with a huge cast, however the theatre has 1200 seats and we got the very back ones, on the very last row, miles from the stage - you don't wanna do that. But it's a great concert, the performers are very good - she will love it, she won't forget it."

Em Holborn, trocamos da Central line para a Piccadilly line, para sairmos em Leicester Square, onde o Mr. Branagh está-se a maquiar para nós. Aos sairmos do metro, na mudança de linhas, o Stuart vira-se: "Fuck! I left my hat in the train. I've already lost it once and had to buy it again, a year ago. FUCK!". Pronto, lá estou eu a lembrar-me se o vi com o chapéu ou não. Ele tem a certeza que o trouxe, eu nem por isso. Entramos no segundo metro, e saímos na primeira paragem. Ele diz que tem de ir aos perdidos achados e eu estou preocupado em sair atrás de alguém, sem ser visto pelos seguranças que ficam plantados nas portas do metro. Vejo a polícia, que está a dar informações - óptimo! - e sem ela reparar, estou cá fora, a andar em direcção a ela para pedir informações. Ela manda-nos para outro sítio e o Stuart parte-se a rir: "You crazy, you've just hid from her, and on the very next moment you're asking her for help. Carlos, you're crazy!" Pois está bem, mas não sou eu que mete pulseiras flourescentes nos atacadores, para eles brilharem quando estou a dançar na disco. Lá vamos às informações, e a bacana dá um panfleto ao Stuart com os horários de funcionamento do serviço de perdidos e achados, que é de Segunda a Sexta - típico - e hoje é Sábado. Seguimos em direcção ao Teatro que é mesmo na saída do metro, e alinhamos na bicha das desistências, porque não há mesmo nenhum bilhete de sobra, nem os de 10 libras em pé. Nisto, a bicha vai aumentando, e temos duas americanas a tentarem meter conversa connosco com cenas do género "Have you got a lighter?" (com aquele sotaque americano...) e a juntarem-se a nós, porque têm medinho de um bêbado sem dentes, a falar um cockney brutal, a meter-se com todos os que passam. Pois está bem, não viemos para o engate, hoje sou do senhor Branagh.

Ficámos uma hora a fila, ao frio e vimos de tudo. Vimos uma mulher com um sotaque muito posh virar-se para o bêbado "Will you please stop? Stop! Go home! Leave people alone!", chamou a polícia - foi fazer queixinhas a senhora. Eu só pensava: "Quem é que ela se julga? O que é que ela ganha em fazer queixinhas e seguir à sua vida, enquanto o homem é que fica enrascado?". Partilho os meus pensamentos com o Stuart que diz: "The streets belong to the people, she has a right to be here." e eu: "And so does he.", e ele: "Yeah...". Nisto uma pessoa à nossa frente sai da fila e vai-se embora, e eu grito de felicidade: "Yeah! Who else? Anyone?" Risos tímidos de uma sociedade de tabus. A seguir, surgem 6 motas com luzinhas (polícia) que bloquiam a estrada. A seguir à rua bloqueada, vem uma carrinha que estende uma fita branca, como que a limitar algum tipo de percurso. Depois vêm cameras montadas em carros, e uma parada de mulheres reclamando os seus direitos, com cartazes e roupas berrantes, e alguns homens - das duas uma: ou eles estavam perdidos, ou sabiam muito bem o que estavam a fazer... Atrás uma carrinha com polícia. Nisto é 19:30 e o espectáculo está a começar, finalmente chega a nossa vez. Os "simpáticos" da bilheteira disseram que as duas pessoas à nossa frente levaram os últimos bilhetes. "I can't believe this..." Nisto surge um senhor que diz: "I've got a spare one, but only one." O Stuart sabe que eu gosto do Kenneth: "Go on, Carlos, you have it." Mas o meu sangue falou mais alto: "Fuck it, mate. Let's have a look around and see if we find any other show starting at 20:00." Viro-me para a fila de gente e digo: "Ladies, there is a spare ticket, you go and have it, we're bailing." E nisto vamos a correr em direcção a Leicester Square, deixando para trás duas velhas a discutir quem é que estava à frente de quem na fila, em outras palavras, quem é que vai ver o espectáculo e quem é que não vai, ou seja, quem é que vai quebrar as barreiras de uma sociedade bem-educada e fazer o maior chinfrim no foyer de um dos teatros mais conceituados de Londres. Eu riu-me.

E ali estamos nós, a 20 minutos do próximo possível espectáculo, que ainda nem sabemos aonde é. A corrida contra o tempo. A chegar a Leicester Square, dou as alternativas ao Stuart: "There's the Prince Charles Cinema for 1.50 a ticket, and the other famous ones like Odeon, in this Square." Ele: "Nah, man, fuck cinema. We can go to the cinema anytime we want, let's see some theatre." Eu: "Alright, let's go towards Piccadilly Circus, I know some theatres there" Chegamos ao Prince of Wales, digo: "Here is Mamma Mia, but I've seen it..." Olho para a rua de cima e vejo o Cartaz do Billy Eliot: "Stewie, do wanna try Billy Eliot?", ele com um granda sorriso: "Yeah, man, let's do it." Chegamos lá, a correr, e estava fechado, porque afinal era uma agência de venda de bilhetes. Olhamos para o fim da rua e vemos outro teatro: "Let's try that one!" Chegamos à esquina aonde estávamos, e antes de vermos o nome do espectáculo, do outro lado da rua saltam as palavras: "Josh Hartnett" no espectáculo "Rain Man". Siga!! Entramos e eu avanço para a bilheteira: "Do you have any spare tickets for tonight?" a bifa: "Sorry, but the show has already started". Eu: "Alright, do you know any theatre around here with a show starting at 8?" a bifa: "You have to ask them." Não faço mais nada: "Thank you very much, that's very kind." E mando-a para a Inquisição Espanhola com um olhar de Morte... MUAHAHAHA! Voltamos loucos às ruas. "Eddie Izzard" - o tempo parou. Eddie Izzard, atrás daquelas portas a dar um espectáculo. "Hey, Stuart, let's go for Eddie. I love the man." Stuart: "No, man, I'm not in a stand-up comedy mood. The guy is a bit full of himself, he annoys me.", e eu: "He is God, but never mind, you are right: we came to see some theatre and that is what we are going to do." E corremos pela rua fora. Mais luzes: "Piccadilly Theatre". Em sprint até ao final da rua, chegamos ao Piccadilly Theatre. "Grease". "No, nooooooooo! Fuck, noooooo! Not GREASE!!!! I know, man, let's go back the Piccadilly Circus Square." Dobramos a esquina e ao mesmo tempo dizemos: "There!".

Corremos para o Criterion Theatre, o espectáculo começava em 15 minutos, bilhetes a 15 libras para os estudantes (treat!), qual é o espectáculo em cena? " '39 steps", uma versão de palco do filme do Hitchcock. Eu digo: "Fuck!" O Stuart: "What? What is it?" Eu: "I bought this Hitchcock's collection and probably I have this film, although I haven't seen it though. Now, I could know what this is all about... But it's ok, 'cuz now I can focus on the show itself, and then I get to see the film in a different perspective." Lá estou a querer saber mais. Mas na entrada do teatro Criterion dizia: "Winner 2 Tony Awards 08, Best New Comedy Olivier Award 07" - o espectáculo tinha que ser bom. O gajo da bilheteira vendeu-nos dois bilhetes com "stlightly ristricted view".Eu ali estranhei logo... Começo logo a pensar noutras alternativas, porque depois daquela do Phantom of the Opera, onde da última fila só se vêm formigas e chinesas a rir o espectáculo todo, não e voltam a apanhar. Eu sabia que havia mais espectáculos no final da rua, o Phantom e isso. Mas aceitámos o desafio, porque eu tinha um plano em manga. Acabámos atrás de um poste, por sermos estudantes. "Bloody Bastard!" Eu tiro uma foto do lugar aonde estamos (senão ninguém acredita) e lá vem uma fulana mandar vir - eu já sabia que alguém vinha reclamar, mas carregar no botão é sempre mais rápido e eles não são gente para confiscar cameras. Vimos a primeira metade do espectáculo, eu inclinado para cima da mulher do meu lado esquerdo, o Stewie sentou-se nas escadas, porque nem inclinado ele via. Mal acaba a primeira parte, desce o pano de ferro de pano, lá vão os ingleses buscar o seu copinho de gelado, e era a altura perfeita para pôr o meu plano em prática. Eu já tinha andado a mirar os lugares vagos, porque apesar do teatro estar cheio, se nós conseguimos bilhetes 10 minutos antes daquilo começar, de certeza que é porque eles não estavam lotados nem poderiam ficar, nos últimos 8... Por isso, teria de existir outros lugares, lugares com melhor vista. Viémos parar aqui (e vai mais uma fotografia):



Muito mais agradavel...



Acabado o espectáculo, levo o Stewie ao Her Majesty's Theatre, logo ao virar da esquina, onde o Phantom of The Opera está em cena há mais de vinte anos. Estamos em passeio, já vimos Teatro, mas quero mostrar a plateia e os seis andares de balcões, para que ele possa comprar o melhor bilhete para a namorada. O espectáculo tinha acabado de acabar (risos... "acabado de acabar"), mas eu já conheço os ingleses: "Posso ver a platéia?" "Não". Mas eu não ia cair nesse erro... Por isso: "Sorry, I've lost my wallet. Is there any chance we can look for it." ela: "Yeh, where were you sat?" Eu já a pensar que me ia pedir o bilhete para ver o número e começo a pensar a pensar em dizer a verdade, e o desespero que é ver a platéia. Eu já fiz isto antes, e é aqui que os egoístas se dão ao privilégio de dizer que não, como já me foi feito antes. E, num instinto de "pensa que estás numa impro" e digo: "Can I show you my seat?" e entro no Her Majesty's Theatre à calão. A mulher segue-me logo, o Stewie hesita, mas em passos curtos vai entrando e começa olhar para o interior do teatro, o fosso de orchestra, o próscénio, etc... Nisto, estou a olhar para o chão, na primeira fila do segundo anel, arrastando a mulher comigo que também olhava para o chão. Com ela a olhar para o chão faço sinal ao Stewie que também já estava a entrar na minha brincadeira e a distrair-se com aquela situação fictícia e com os lábios mudos e apontando para cima digo: "Look up". Ainda ficámos uns dois minutos à procura da carteira que tinha no bolso. Depois saímos, e levámos os panfletos para ele ver os preços e lugares, para preparar a noite com a namorada.

Ainda fomos ao Trocadero jogar nas máquinas, ele experimentou o Black Jack e ganhou £1.50, e antes de ficar viciado arrastei-o dali para fora. Fomos comprar umas sandes e lá voltei eu à aventura do entrar no metro sem ser visto pelos seguranças. O metro estava a abarrotar, mas a viagem era longa e nós sabíamos que mais tarde ou mais cedo as pessoas iam saindo e já nos poderíamos sentar. Lá para Stratford, uma gótica começa-se a meter connosco, completamente besana mais os amigos, a comer a alface da minha sandes. Ela saiu e outras três sentam-se à volta do Stewie a comer o Twix que eu lhe dei e uma delas a atirar-se subtilmente... quando sairam ouvimos: "He was FIT!"... Pitas. Chegámos a Dedben, toca de saltar a porta das bicicletas, dizer adeus ao Stewie e andar para casa . Na rua de casa, ouço a voz da Chloe e decido fazer-lhe uma visita. Estava ela, o Ray, o Jonny, a Robyn e o nosso amigo dela Eddie a fumar erva, beber gin&tonic e a ver séries no computador. Nisto aparece a Marta - italiana - a descer as escadas e a dizer para fazermos menos barulho que queria dormir. Batem à porta, e é a Valéria, mexicana, que também já vinha acompanhada. Fico um pouco com eles, mas depois despeço-me e vou dormir.

Comprei um poster do espectáculo, a ver se começo a tapar esta papel de parede florido que cobre as paredes do meu quarto. Em relação ao Kenneth Branagh, isto não fica assim: a meio da semana vou baldar-me às aulas para ir para a fila mais cedo. A ver se não o vejo... Pois, está bem!

1 comment:

Anonymous said...

Seu bandido! Vai mas é comer geladinho de baunilha no intervalo dos expetáculos e toca de ler Vírgilio Ferreira ao invés de enviar mensagens obscenas às pessoas. =P Amo-te?

Hamlet em julho...lá estarei eu!
Fiquei curiosa de saber um pouco mais acerca do 39steps, e quanto ao Brenagh...Não gostava de estar na vossa situação, é um choque contra-orgasmico instantâneo.