As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Tuesday, 8 January 2008

Ao meu filho

Foi como muito amor que eu a tua mãe te tivemos. Muito amor, mesmo! Foram longas as noites quentes que passámos debaixo dos lençõis, cobertores ou completamente descobertos - dependendo das estações do ano - para te virmos a ter um dia. E todas essas noites, manhãs e tardes... acredita, meu filho, foram muito intensas. Tudo para te ter um dia. Para te poder ter nos nossos braços. Nos meus e nos desta senhora que eu amo e com quem quero passar a vida - a tua mãe.

Mas tu não nasceste como nós queríamos.

Não é que fosses feio, gordo, ou com alguma deficiência. Entre todos os bebés, até és bonito e os teus avós chegam mesmo a dizer que és o mais bonito deles todos. No entanto, para nós não és aquilo que queríamos.

O teu problema é que és um bebé!

Nós queriamos que fosses mais crescido, um adulto! Mas olha-me para ti... Ris-te da mesma maneira que berras! Tudo para ti é motivo de alarido - menos quando estás a dormir...
Mas nem mesmo quando estás a dormir! Porque tu não tens horários de sono! Tu dormes e acordas quando te apetece! Será que não percebes que a tua mãe e eu temos de descansar para estarmos frescos para o trabalho? Se a noite não nos corre bem, não vamos trazer tanto dinheiro para casa! Não há bonos, elogios nem promoções para ninguém! E tudo por causa do menino! Quantas vezes já te dissemos para não correres? Podes acabar de baixo da roda de um carro, meu Deus! Podes matar-te! Mas nem a tua saúde tu prezas? Mas se não prezas a tua saúde, ao menos ouve o que te temos a dizer! NÃO FAÇAS ISSO!!! (não estejas sempre a sorrir, tu não tens o direito - EU não tive o direito, tu também não terás!) Raios partam a criança que nunca mais cresce! (pouco me interessa que és bebé - eu também fui, mas agora estou grande ou não, tive ou não de crescer? por isso também hás-de crescer à força) Não cuspas a comida! (nem sequer dá ao trabalho de a provar - e tantas vezes tive eu de engolir contrariado essa mesma sopa) Não te borres todo! (sempre a gastar fraldas... não és tu quem as pagas!) Já te disse para não correres na rua! VOLTA PARA AQUI!!!! (eu avisei-te mais que uma vez! e porque eu te amo, vais levar com esta trela em cima, para fazeres o que EU quero!)
Vês?... Eu não te disse que era tudo mais fácil se tivesses nascido adulto?

3 comments:

Sofia said...

Gostei muito deste.
A verdade é que há muitos pais que querem um filho, sonham com ele durante anos, se for preciso e, quando o têm, a realidade não é outra senão esta.
Retrataste a sociedade e este problema de uma forma digamos que original e, na minha opinião, muito bem conseguido.

Beijinho :) Gostei. Apesar de não estar carregado de sentimentalismos, senti bastante a carga deste texto.

Anonymous said...

Já tinha ouvido falar anteriormente acerca da tal "trela", mas quando passeavamos na rua e viamos mais que uma vez até crianças assim com uma trela...sabes bem qual foi a minha reacção. Escreveste sobre isto como tinhas dito que ias fazer, e de uma forma que só tu sabes fazer, é a tua essência, enfim...(onde e que arranjast a foto?) Beijo.

Balbino said...

A foto não é original; tirei-a do google. Não tive coragem de pedir a uns pais que me deixassem tirar uma foto com a trela do filho na minha mão. Mas, se para eles, é uma coisa normal, tenho de arranjar motivação. Depois, troco a foto.