As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Thursday 24 April 2008

Curtas - Mais Um Domingo



Um Abraço e um Obrigado ao Daniel Barros Soares, o realizador, pela discussão sobre este tema que dá pano para mangas.

Pre(to)conceito de 21 de Junho de 2000

Instinto

Instinto é aquilo que nos torna diferentes. Que nos marca aos olhos dos outros, que nos afasta da massa de corpos que tende a seguir o resto do cardume. Não é ser do contra ou ser rebelde, mas é reconhecer a sua individualidade e diferença. É um beijo naquela pessoa, não por ser a mais bonita, mas por ser a única.

Ao caminhar pelas margens do rio Aqueronte, vi almas de gente que pagava até ao dia juízo final, por todos os pecados que haviam cometido em vida. Estendia-me os braços pedindo ajuda divina - eu, que apenas mortal sou. Sentei-me à beira das águas, para molhar os pés cansados de tanto andar. Essa gente que me olhava, continuava a pedir ajuda, pediam para reescrever o passado. Todos sabemos que podemos reescrever o passado em papel, mas jamais enganaremos o tempo. Cegos são aqueles que ignoram que reescrever o passado é ser empurrado ainda com mais força para o futuro. Comecei a lavar os pés.

Passei as mãos pela água castanha de sangue e dor, lavando a sujidade que tinha nas mãos. A sujidade que fiz durante a minha caminhada. Lavei os pés, então, começando pelos dedos com unhas quebradas, irregulares. Nisto reaparecem mais corpos da água, mais almas penadas, que se voluntariaram a lavar os meus pés. Eu sabia o que eles queriam, mas não posso praticar acções que me ultrapassam. Deixei-os lavar os meus pés suavemente. Suavemente me massajavam, suavemente me lavavam as partes do meu corpo que fizeram sempre que eu estivesse de pé, e que sempre me guiaram para a frente, até aqui. E eu sou apenas um mortal e, como tal, não os poderia ajudar naquilo que eles realmente queriam.

Continuaram a lavar-me os pés com um cuidado e suavidade recompensadoras. Por aquele momento, era capaz de voltar atrás e fazer o caminho todo de novo. Suavemente me lavaram os pés, os joelhos, as coxas... Lavaram-me o corpo todo. O peito, os braços, a cabeça. E tão bem que soube aquele banho. Por aquele banho, ansiava eu desde o momento em que tinha nascido, descobri ali a minha missão no Mundo, a razão para eu ter nascido. Quando dei por mim, estava no meio deles, abraçando-os, beijando-os, homens e mulheres, crianças e velhos, almas, muitas almas, que me sufocavam de uma paz que vim a descobrir que era Eterna. E eu que era mortal, a única coisa que lhes tinha a dar era o meu sacrifício.

Instinto é aquilo que nos guia pelos diferentes caminhos. Nascemos todos iguais, vivemos todos de maneira diferente, mas voltamos à Terra de maneira igual. Os meus únicos instintos são nascer e morrer. Um já está. E para o outro, por mais que tentem reescrever, continuará sempre a ser... uma questão de tempo.

Pássaro da Meia-Noite

Havia um pássaro que vivia na Torre de uma Igreja. Chamava-se Pequeno Pássaro. Um dia, o Pequeno Pássaro saiu do ninho à tardinha, porque tinha de ir fazer pela vida. Todos os pássaros dirigiam-se para Sul, fora aqueles que de lá voltavam. O Sul era um sítio especial. Não é que o Pequeno Pássaro gostasse muito, mas era um dever. Todos os outros pássaros que iam ao Sul e voltavam acabavam sempre por chegar felizes, cheios de histórias para contar, com presentes para todos os outros. Presentes e lembranças.

Lembranças de quem esteve para aqueles que não poderam estar.

Ir para o Sul, para além de ser um dever, para a maioria dos pássaros, era um privilégio, uma honra! Porque há certas coisas que dignificam um pássaro. Assim, olhando para o céu cor-de-pôr-do-sol, viu as pintas velozes que batiam as asas ao ritmo do coração. Ao ritmo de um coração pequenino, pequenino de pássaro, mas cheio de vontade de fazer e acontecer e (quiçá) contar aos outros. Porque, como tudo na vida, há coisas que não fazemos por nós, mas que fazemos pelos outros. Para que os outros nos reconheçam. E atirou-se ao vento, batendo forte as asas. Juntou-se à nuvem de pássaros, e desapareceram todos naquela linha que vai-se afastando cada vez que nos aproximamos mais.

Tempos mais tarde, o Pequeno Pássaro voltou. Já não era Pequeno, mas sim, um Grande Pássaro. Estava mais elegante, com as penas mais coloridas, com as asas mais compridas e fortes, e um bico redondo e robusto. Para além disso, vinha mais fisicamente constituído, parecendo um Pássaro Grande Demais, até. E, ao chegar ao ninho, viu que todos os outros pássaros que tinham ficado continuavam na mesma. Sempre na mesma rotina, sempre no antigo, velho e ultrapassado. Continuavam franzinos. O Grande Pássaro percebeu que nem precisa de se gabar do que tinha feito, e que até podia dizer mentiras e mais mentiras, que os outros, devotos e crentes, sempre acreditariam e o invejariam. Por tudo o que ele tinha feito e eles não. Pelo desconhecido que ele é capaz de descrever, porque para ele já não é desconhecido. O Grande Pássaro percebeu, mais uma vez, que tinha crescido. Tinha crescido de forma definitiva, de uma maneira que nenhum outro pássaro o poderia desclassificar - ele tinha conquistado o pódio da vida.

E, todos os outros que lhe pediam para que lhe contasse como era o Sul, não perceberam porque é que ele vinha calado, e sem nada para contar. O Grande Pássaro queria voltar a ser Pequeno. Como ele sempre temeu, o Sul finalmente tirou-lhe aquilo que ele tinha de mais valioso. E no sino da Torre da Igreja bateu a meia-noite.

Cravos de Abril

Pela razão e emoção. Pela liberdade e libertação. Para o Jardim do Paraíso e os Suspensos da Babilónia.

De um país que cuida do seu Jardim!

Para que venha a Terceira Idade, onde haverá um menino que nascerá e será coroado Rei. E que o Mundo seja comandado por ele. Só assim a Paz será nossa! Liberdade ou Morte!

Ping-Pong

Do lado esquerdo entra o jogador vestido de branco. Do outro lado, um vestido de azul. O juiz apita e começa a partida. O de branco serve, o azul responde, o branco envia, o azul estica-se e reenvia, o branco retribui, o azul devolve e é ponto. O azul fica clarinho. O Branco volta a servir e mata ponto directo. E com isto ganha uns tons azulados. É a vez do Azul claro servir. Eis que serve, o branco devolve com efeito, o azul responde, mas a bola bate na rede, mas - atenção! - ela passa para o outro lado, o branco estica-se todo e apanha. O azul vê a bola vir fraca mas deu para dar uma resposta forte e deu um esticão, o branco esticou-se todo mas não conseguiu. Ponto para o azul. O Azul ficou ainda mais claro. Volta a servir, o Azul, e é surpreendido por uma resposta fenomenal do branco que acaba por marcar ponto. Nisto, o branco ganha ainda mais tons azulados e escurece um pouco mais ainda.

O jogo seguiu-se e no final, o azul não sabia se era branco, e o branco também não sabia de que cor era. Na verdade, ninguém destinguia-os. O juíz também não os conseguia distinguir.

Assim, o juíz não pôde atribuir o prémio a ninguém. Acabou por ter de ficar com o prémio. Entrou no seu Porsche e nunca mais foi visto.

As Legiões


Lá foi ele para rua, à procura de um sítio sossegado. Como se estivesse a vestir o seu escudo, elmo e lança. Apesar das chamadas não atendidas, do dinheiro no banco, dos trabalhos que tinha a fazer, ele quis ir para a rua abstrair-se, porque aquele dia era de Sol. Quis levar o seu didgeridoo e a guitarra, a ver se acontecia alguma coisa, já que o homem da loja de música lhe tirou a guitarra branca com um som característico das mãos.

Tal era a ansiedade que começou a tocar o seu instrumento comprido com som imperial ainda no caminho, enquanto andava. As pessoas que por ele passavam diziam que ele tinha aquele instrumento que chamava a chuva, e fugiam dele, atravessando para o outro passeio. E ele continuava a tocar, concentrado em tirar o som que lhe fazia lembrar o grito de Guerra das Legiões Romanas, antes de invadirem uma vila de bárbaros. As pessoas gostavam do som do instrumento, gostavam umas, outras não. Mas a maior parte nem reparava no instrumento, porque a maioria de nós tem vozes na cabeça que nos lembram o que temos de fazer. Aqueles que não têm essa voz, ocupam o tempo a fazer sons para a Terra Mãe ouvir.

Chegou finalmente ao banco, à sombra da árvore, mesmo em frente ao rio que corria na direcção contrária à que ele sempre achava que corria. Os cisnes também estavam presentes, claro, tinham de estar. Os cisnes são do rio e da princesa cisne, que era das poucas vozes que esse tal homem ainda tinha na cabeça. Começou a tocar o instrumento, agora mais concentrado, tentando ser mais preciso e, no entanto, vagueando pela escala cromática. Pouco depois, pousou-o para descansar tal não era o fôlego que tinha gasto naquelas expirações. Começou a chover. Tinha começado a chover. Teria sido por causa do instrumento? Na volta, o instrumento era mesmo para chamar a chuva, e ele não sabia. Assim, foi a correr para de baixo de uma ponte, aonde ficou a tocar, ao lado de gente que também se abrigava, ficando-o a ouvir, e a ver a chuva a transformar-se em granizo.

A chuva acalmou-se, o dia que era de Sol, ficou nublado, e ele parou de tocar a música. Voltou para casa, em marcha de prisioneiro de guerra, com correntes nas mãos e nos pés. O som tinha dado vida à História. Olha-se para trás, para as ruas cinzentas, com restos de pedrinhas que cairam do céu e pode dizer-se: as legiões passaram por aqui. E nunca ninguém saberá o que levaram, e quem levaram.

Sunday 20 April 2008

Curtas - 10 Doors Closing

Jono Callow Didgeridoo

Aquele som que se ouvia ao longe, por detrás das montanhas que guardam a vila dos nossos amigos e queridos vizinhos, em casos de urgência. Era o som que se distinguia, que rompia por entre as plantas das florestas, em urgência de enviar uma mensagem. Era o som que transportava no vento e no eco as mensagens que, apesar de por vezes serem menos boas, entrava nos ouvidos das pessoas de forma tão suave e harmonioza. É dizer "Guerra" em tom de Paz. É dançar, é tocar, homens e mulheres, sem raças, tabus, diferenças. É ser-se Puro.

Hoje em dia, o didgeridoo transformou-se. Perdeu-se a mística, deixou de ser o que devia e sempre foi? Não. Isto é a evolução positiva, é uma passo a mais em direcção a essa entupia.

Day 5

Last day I almost finished the Conversation scene with mother. I don’t talk about the play to-day (sorry this way of writing, it’s this book I’m reading), because I have something rather more interesting to mention.

Maddie Lawson, my Writing For Performance lecturer, told us in today’s lesson to go to the computer room and get on with our work. And here I am, in it’s 11:20 of Day 5, in the IT Study Centre doing my work. I was thinking of doing some work on the two writers I have to research on, however someone in the authority department changes my aims and now I am writing in my diary.

I logged in to the computer, but it turned off. As I was reading my last assignment sheet, I didn’t notice the computer was turned off, so I wasted like 5 minutes turning it on and logging in again. But that’s alright, I could live with that. But, then, unfortunately some window topped up asking me to restart the computer. And there I went again, waiting for the computer to restart, typing my Student User name, my password, waiting for all the settings to restore.

At last, I was logged in, and ready to start working. When I’m doing boring stuff on the computer, I am always listening to music. When I’m doing interesting stuff on the computer, that’s because I’m doing something to do with music, or just listening to music. Conclusion: I’m always listening to music when I’m on the computer, it’s my method, and a way of keeping me going without get bored and turned it off, and obviously play the guitar, the piano, the didgeridoo, or whatever it is related to music.

The school’s computer system is down since last week. For one week we were not able to print off anything and we still cannot sign in to our e-mail accounts, which is something quite inopportune since I am waiting an answer for one University regarding next year’s Drama course. However, as the system was down, I knew from the beginning that I was able to log in to every website I wanted, even the porn ones, because the firewalls were down. That’s obvious, isn’t it? I could have gone to watch some porn or gossip magazines, but that’s not my kind of thing. I’m the kind of a fellow who wants to have a good portfolio for Writing for Performance, therefore I decided to go to the youtube website and listen to some music (I tried the imeem website first, but it was not available at the moment). I was watching the David Bowie’s video with Trent Reznor (I never get his name, I have always to double check in the google) I’m afraid of Americans. As I was immerged in the colours of the clip, I wasn’t obviously doing my work, and you know it because I’ve told you before that I get distracted very easily.

At this moment, This Lady With A Fake Plastic Smile In Her Face (TLWAFPSIHF) comes next to me and says something like:

TLWAFPSIHF (in a British way of meaning “what fuck are you doing?” or just being ironic) – Nice video!

Me (in a Portuguese way of saying “fuck off”) – I know.

TLWAFPSIHF –You’re supposed to be doing college work.

Me – This is inspiring.

TLWAFPSIHF – I’m sure it is, I have to ask you to turn it off, though.

Me (losing my position) – OK. (and paused the video, minimized the window and stood there thinking)

And how unfair can this be? So, I kept on thinking of a way of making her know that I was actually doing work and I meant it when I said it was inspiring. So here’s what I did: grabbed a pencil, a note pad, stood up and walked in to the little room where she has all the privacy to watch whatever she wants in the internet.

I begun apologising to interrupt whatever she was (not) doing (I can be British as well) and asked pragmatically what her name was. Jo, it is and I wrote it down, right there, right in front of there. To double check I asked if I had written it properly, with a J and an O. Then I asked what was the name of the room we were in, and she asked if I meant the cubical she works in from 9 to 17 everyday, through the whole school year, doing whatever she does here, and Iaid “no”, that I meant the whole computer room. She said “I.T. Centre”, as I wrote it down. Then I looked at her and asked why did she made me turn the youtube off and she answered me it was against the regulations and that works for everyone, not only for me. I asked her why would she do that, if anyone complained or if she caught me doing that naughty thing of mine, and she said that she walking by and just saw me. She also said that I wasn’t meant to be there, and that the only reason those 13 computers were empty is because the lecturer was sick (a made up story, obviously – don’t fall into that what one, please). She also said told me that I could only use those computers if I had booked the room and I were in a lesson, which is another big fat lie. I wrote all of this down, in front of her, because I’m the kind of a fellow who stabs on people’s back. Then, I finally got what I wanted, I made her stress out, and the fake smile faded away, and asked me what my name was, my student number, which course I was taking. I answered to everything she said, with my smiling face, even before she asked. And I added: “I am in a lesson.” – Bull’s-eye. And she said in the end: “If you want to get difficult, I can choke you out.”. This is a person panicking, dear reader. I answered “Go ahead, I’m comfortable with it. Take care, huh, Jo!” And then I walked away, came back to my computer, and kept on listening to I’m afraid of America, while I was writing this. Then, the firewalls were suddenly activated (guess who did it) and my iPod has no battery, which means I wrote most of this listening to the Computer System lesson next to me.

I made my point, used a little bit of inverted psychology, which is what I call Dark Zen or Zen Negro (in Portuguese). She was shaken a bit from the inside and might consider a bit more before she tells someone off, next time.

Because in the end of the day, I was about to start working, not disturbing anyone, in a place surrounded by 13 empty chairs and computers. This is bullying. This is the law bullying people for no ethic or moral reason. This is the book I’m reading (Orwell’s 1984) becoming a reality, and no-one notices or mentions it. This has everything to do with my play. It’s all in there.

Saturday 5 April 2008

Curtas - The Shock Doutrine

Curtas - L'amour

Acordo Ortográfico


Queria começar por agradecer a todos os que participaram nesta votação.

O Acordo Ortográfico é um acordo que foi assinado em 16 de Dezembro de 1990, por todos os países de Língua Oficial Portuguesa (no nosso caso, foi assinado por Pedro Miguel de Santana Lopes, Secretário de Estado da Cultura) , com o objectivo de unificar a nossa língua. Desde essa data que o Acordo Ortográfico tem sofrido protocolos e actualizações. A última actualização que se fez foi em 2007, e poderão ler superficialmente sobre o caso neste pequeno artigo.

Unificar a Língua passa por acrescentar letras como o w, y e k ao nosso alfabeto. Lá que os brasileiros acrescentem essas letras em nomes como Willyam ou Kayo, por mim está tudo bem, até porque os nomes violentos aos nossos ouvidos têm uma base indígena da qual nós não somos cúmplices. Bem que podiam reproduzir os mesmos sons com as letras do alfabeto regular, mas preferiram usar as de outras - o que lhes é legítimo. E, agora, para unificarmos, teremos de aderir. Porque é que não acrescentamos letras como o alpha e o delta? - já pensaram? Porque isso não é unificar com quem nos querem anexar... Agora pensem lá quem é que usa w, y e k no alfabeto.

A primeira opção de voto era "Sim. A união faz a força." que é para as pessoas que acham que o Acordo Ortográfico é uma vantagem para Portugal, em específica esta actualização. É pena que, na ignorância de conhecimentos sobre o tema, não saibam o que estão realmente a dizer. Aderir a estas mudanças estamos a alterar a nossa identidade (até aqui tudo bem) por algo que não se justifica. E volto a referir: para que é que queremos o k, o w e o y? Se tirarem o acento circunflexo (uma referência que só existe na nossa língua), como distinguiremos vêem (ver) de veem (vir)? Qual é o interesse de sermos colonizados pelos Estados Unidos ou o Brasil? Porque é que os nossos turistas haveriam de comer o mesmo que comem em casa e serem servidos por pessoas que não portuguesas? E ide treinando já, porque "homem" agora é O com grande!

A segunda opção de voto é - e agora quem quiser, que tente parar-me - sem dúvida a mais sensata. É saber aonde estamos e o que somos. Não votar nesta significa não se importar de ser de outra nacionalidade. "A minha Pátria é a Língua Portuguesa." - Fernando Pessoa. Para todos vós que querem ter VOZ, tenho uma coisa que vos vai certamente agradar. Encontrei uma petição online contra o que se passa, que prometerei divulgar neste espaço e em todos os sítios em que as pessoas percebem o que eu falo.

Ao Sr. Ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, os meus parabéns! Conseguiu a sua imortalidade!

Como definir ÓDIO?

Pátria Sem Escudos

País sem paredes
Pescas com as redes
O peixe do mar
Que nunca deixou de te amar

Povo selvagem e ignorante
Guias-te na fé cegante
Caminhas por todas as estradas
Com as roupas do corpo rasgadas

Vento que sopra quando precisas
Forças da Terra em pequenas brisas
Batem no pano da tua vela
E deixas-te ir com ela

Ó, Povo de mendigos e pedintes
Que se matam por berlindes
Comem sempre com a mão
As sobras dos pedaços de pão

Bruto e sem modos,
Com unhas que nunca viram verniz
Nasces, trabalhas, morres
E, no entanto... és sempre feliz

Saudade

É tão bom chorar.

Espalhados por todo Mundo, humildes e pobres, lutam por uma vida melhor. Este é o povo português que um dia deu novos mundos ao mundo, e que criou pontes que jamais cairão. Marinheiros chorados pelas suas mulheres, chorados pela pátria, de todos os Reis que tivémos, aqueles que nos amavam e aqueles que nos trairam.

Sempre tivémos este cantinho, deste continente que sempre esteve em Guerra. Já por cá passaram muitos impérios, desde aqueles que diziam que nós "não nos governamos, nem nos deixamos governar" àqueles que pensam que isto faz parte do país vizinho, ou que ficamos no Norte da África. E nós que já fomos a África inteira, tivémos o Mapa Cor-de-rosa, tivémos o Oriente, as Américas, tivémos as terras e os mares... Os mares, principalmente.

Hoje em dia, temos um povo que esquece a sua língua, que assina acordos, temos doutores e senhores do dinheiro que governam as nossas terras... que as desgovernam. Podemos ter perdido o nosso vinho do Porto, os nossos almoços de Domingos, os nossos passeios nos parques pelos passeios pelas lojas de luzes que nunca fundem, e, estamos quase a perder a nossa língua... Mas, jamais perderemos as vozes do povo, as "saudades" ainda que em forma de sehnsucht ou missing, poderão tentar traduzir isto do que é ser português - e até nos podem apagar a palavra, por completo. Podem-nos tirar o poder de expressão... Podemos ser completamente anulados.

E, lá numa casa escura, às horas altas da noite proibida, continuará uma mulher a cantar com a mão direita apoiada nos guitarristas sentados. Porque é isto o que somos. Levem as terras, as famílias, a tradição, a pátria, mas não tirarão os sons que saem das gargantas dessas pessoas que já nasceram castigadas. Porque o Fado nasceu de uma prostituta... Porque o nosso povo nunca foi nobre por fora... Mas que jamais será pobre por dentro.

Se choro, é porque é bom chorar. E só aqueles que nasceram e falaram como eu é que poderão perceber... porque isto são as ruínas mouras de Lisboa, são os longos campos secos do Alentejo, as praias e os figos do Algarve, os vales e florestas do Norte... Isto é o meu país. O meu país que é de todos.

Querer voar e não ter asas

Para tu que lutas sem descansar, um beijo. Deixa-me dizer-te o quanto te percebo e o nada que faço. Deixa-me que te diga que a tua vida inspira a minha e me emociona. Muito. Como pessoa, como filho e futuro pai. Como pessoa, como pessoa que nasceu um dia e um dia há-de morrer.

As diferenças criadas pela chamada "sociedade" que ninguém sabe quem é, mas de que todos somos culpados, continua a afastar a felicidade das massas, para uma pequena minoria que nem feliz é, por nunca ter sentido infelicidade.

Não és o único e nem serás o último - dizem-me. Se não sou o único, é porque não depende de mim. Mas eu ponho aqui um ponto final.

Tão jovem e tão morto...

Aonde está a poesia, a subjectividade, o sonho que costumavas escrever, Balbino? Está toda aqui, venerável leitor. Porque a vida é mesmo isto: um mito, um nada que é tudo, que ninguém sabe o que é. Mas que eu sei certamente o que não é!

Um beijo à Maria, outro à Careca Loira deste pequeno pássaro!

Paz e Amor!

Dores de Cabeça

William, meu caro William... William, o que é que foste fazer? Estava tudo tão bem!
Tens uma mulher maravilhosa, um bom salário, um futuro nada mau para quem muito cedo desistiu do caminho mais fácil. Tens um irmão que te ama, tens pessoas à tua volta que gostam da tua maneira de ser, em especial da tua boa disposição.

Foste vender isso tudo por um salário melhor, meu caro William. Se as escolhas fazem uma pessoa, contigo foi o pior; disfizeram uma pessoa. Desfizeram a tua maneira simpática de ser e fizeram com que as pessoas mudassem os sentimentos em relação a ti - a começar por mim. Daqui a uns meses, outros deixaram de te tratar tão bem, por tal rigidez e sistema ditaturial que tentas instalar... tu, que nada percebes de política, que apenas aprendeste com o que viste fora de aulas, professores ou livros a duas libras nas livrarias de segunda mão. Continuarás a lutar pelo mais fácil, pela segurança que acreditas. Lutarás por essa miragem que insiste em te mostrar o caminho.

William, meu amigo, que foi feito das piadas sobre portugueses, dos comentários sobre mulheres "gostosas", dos clientes que deixavam ou não gorjeta, dos bolos que por estarem um pouco disfigurados vinham sempre parar a nós? Que foi feita da corrupção que praticávamos na Máquina, corrupção essa que nos unia, ainda que não percebesses bem os ideais, mas que te dava gozo?

Não sei se são destas dores de cabeça, deste meu temperamento "ou comigo ou contra mim", mas certamenta jamais será por discriminação das nossas diferenças. Jamais será por me achar superior ou inferior a ti, ou por sermor iguais. Porque, desta vez, não fui eu que me afastei - foste tu que te quiseste tornar diferente.

- Sim, senhor Supervisor, eu posso trazer-lhe um copo de água. Sim senhor Supervisor, a minha namorada está bem, obrigado. Se estou chateado? Não, apenas um pouco cansado, não se preocupe! A sobremesa? Não, muito obrigado, comi antes de vir para cá.

SUPERvisor... abra a sua visão e veja se é isto que quer ver.

E nem isso é mau, porque as pessoas que te estão próximas continuarão a ser felizes - podendo ou não ter sido mais ou menos felizes. Jamais te abandonarão aqueles que de ti realmente gostam. Ou pelo menos, não te desejo o contrário. Apenas... perdeste. É isso mesmo, sabes o que é que perdeste? (risos) Pergunto-me se algum dia saberás... Porque, concretamente e na tua maneira de pensar, só me perdeste a mim. E, um dia talvez, meu amigo, percebas que foi uma das coisas mais valiosas que perdeste!

Alguém se lembra?

"À 1:23 do dia 26 de abril de 1986 quando os técnicos que trabalhavam no reator quatro da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, cometeram um erro fatal.
Em vez de desligá-lo, depois de horas de atividade, eles aceleraram o processo que faz os átomos de urânio enriquecido se partirem para liberar energia. O reator sofreu então um superaquecimento e explodiu. Uma nuvem de fumaça de partículas radioativas se espalhou pelo norte da Ucrânia, o sul de Belarus e a região russa de Bryansk com um poder 400 vezes maior que o da bomba que em 1945 devastou a cidade japonesa de Hiroshima, ao final da Segunda Guerra.
Foi construído, às pressas, um contêiner cujas paredes de aço e concreto deveriam isolar o reator. O tempo passou, mas ele continua emitindo as suas partículas letais na atmosfera. O número de pessoas que sofrem de câncer e outras doenças desencadeadas pela radiação aumenta a cada ano. E não poderia ser diferente.
Os efeitos de um desastre atômico demoram pelo menos 20 anos para se manifestar em larga escala."

Também consta que os técnicos que lá trabalhavam tinham pouca ou nenhuma formação especializada...



Somos todos filhos disto. Se não se vêem marcas por fora não significa que eles não estejam lá... ocultas

O Restaurante

O cozinheiro - Somos poucos para cumprir o trabalho. Manter a comida quente é difícil, especialmente quando há vários clientes. Por exemplo, numa mesa de 20 pessoas, mesmo com reserva, jamais conseguirei acabar o primeiro prato antes que o outro arrefeça. É demasiada pressão, é de loucos! Temos nove bicos de fogão para trinta mesas, noventa lugares. Isto é de loucos! Já só somos quatro e ainda nos querem reduzir para três na cozinha, porque gasta-se muito dinheiro em salários. Porque é que não reduzem no pessoal que serve à mesa? Se isto continua assim, nunca mais cá torno!

O empregado de mesa - Vim para cá estudar e preciso deste emprego para pagar o quarto. Eu acho que eles sabem disso, e por isso abusam. São clientes e mais clientes, mesas de oito pessoas a chegar, sem reserva! E nós temos de fazer o possível e o impossível. Ainda levamos com as queixas dos clientes, quando a culpa é dos incompetentes da cozinha, que demoram a cozinhar. Depois, ainda se acham no direito de restringir as nossas opções de refeição - nada com bacon ou frango. Isto é um absurdo! Não sei se consigo estudar assim, tenho muito mais hipóteses de sobrevivência a trabalhar nas horas calmas - mas para isso é preciso trabalhar a full-time. Se isto continua assim, nunca mais cá torno!

O cliente - A comida é pouca e ainda nos mandam olhares estranhos quando não damos gorjetas! Queriam gorjetas? Sejam competentes! Afinal de contas, eu também me esmero entre as 9:00 e às 17:00! Já não bastam os preços altos? Deixam-nos imenso tempo à espera, como se estivessem a aguardar o momento certo em que a comida fica fria para nos poderem vir entregar. Se isto continua assim, nunca mais cá volto!

A Entrevistadora -
Vê, tanta hostilidade num dos seus restaurantes, já viu que pode acabar sem ter ninguém?

O Dono (tranquilo) - Não me parece...

A Entrevistadora (chocada) - Como não?

O Dono - Todos eles precisam de dinheiro. Todos eles precisam de mim.

PUM

PUM!

Cavou na pele, perfurando como uma agulha, rompendo na zona da têmpora esquerda, penetrando, penetrando. Mergulhando a cabeça, pescoço, tronco e todo o corpo no interior do crânio. Atravessando devagarinho a zona da testa, mas pelo lado de dentro. Devagar, devagarinho, com paz, com amor, com carinho, fazendo uma surpresa na outra têmpora, rompendo de dentro para fora, como um vulcão a entrar em erupção, ou como uma borbulha. Rompeu devagar a pele da têmpora, mostrando a saliência, alterando a elasticidade da pele, elasticidade que resistiu por pouco tempo, deixando surgir a cabeça, o pescoço, tronco e todo o corpo da bala, que seguiu o seu destino na sua natural velocidade ansiosa e motivada de infinito.

Sangue.
Sangue deste lado, e do outro. Que escorre devagar, escorre e tenta coagular ao mesmo tempo - tão versátil que é o nosso sangue, que foge mas tenta deter-se ao mesmo tempo. Mas era tarde demais, e eu já estava morto. Os meus olhos, momentos antes de revirarem, viram a sombra branca afastar-se do meu corpo em direcção ao céu. Espera!... Não está a ir para o céu... Mas... então?...

- NÃO!!! VOLTA AQUI!!! AONDE É QUE...

Bright Eyes

Try and look up
You will see
The ceiling is still the sky

In the light bulbs
Remain the stars

The ground is not made
Of soil since ages

And souless bodies
Greet you on the streets

You don’t have to answer
Don’t have to surrender

Your eyes
Your bright eyes
Were made to look up

Quadro de Som

Pinheiros

O senhor velhinho sempre gostou muito de andar de bicicleta, mas tinha um enorme defeito que irritava a senhora sua esposa que, com muito carinho, ia com ele passear todas as manhãs por esses campos fora - ele distraía-se com todas as árvores, especialmente com os pinheiros, e ia ficando sempre para trás. A senhora esperava pacientemente por ele, que ficava a olhar para as árvores, imerso em pensamentos que o afastavam do Mundo e do Tempo. A senhora sempre esperou.

Numa tarde, ao chegar a casa do habitual piquenique durante o passeio de bicicleta, o senhor teve um acidente: a corrente da bicicleta partiu-se, e, teve de ir a pé empurrando-a nos trinta metros que faltavam para chegar a casa. No dia seguinte, não deixou que a consertassem e passou a ir a pé, ao lado da mulher. A mulher pediu-lhe várias vezes que consertasse a bicicleta, porque ela gostava muito de andar de bicicleta, mas o velho tinha esta teoria de que aquilo tinha-lhes acontecido como uma dádiva, pois estavam cada vez mais velhos e andar só lhes fazia bem. E, apesar de ser uma das coisas que mais gostava de fazer, sentia-se mal ao ver o marido caminhar ao seu lado e por isso abdicou de ir a pedalar, também.

Mas o velho, nem por ir a pé, se apressava nas a olhar para as árvores que segundo a mulher eram "sempre as mesmas". Assim, com o cestinho da merenda, começaram a chegar a casa cada vez mais tarde. A velha sentia-se exausta e começou a não ir todas as vezes com o seu marido. As caminhadas pareciam ser longas, apesar dos trechos serem menos extensos, pois o velho parecia demorar mais e mais enquanto se deslumbrava silenciosamente a olhar para as árvores. Especialmente com os pinheiros.

Uma tarde, o velho chegou a casa e teve de fazer o jantar para ele próprio, pois a velhota tinha morrido enquanto ele estava fora, a contemplar as árvores, especialmente os pinheiros. A mulher tinha morrido, porque já estava muito velhinha. Por aquela altura, ela já tinha as pernas muito cansadas, e só inexplicavelmente é que o velho ainda tinha forças para sair. Daquele dia em diante, o velho começou a sair mais cedo de casa, porque tinha de tratar das tarefas domésticas agora sozinho, mas com o mesmo vigor de sempre.

Hoje, vim do trabalho, já à noitinha, porque fiquei a fazer horas para meter a papelada toda em dia - esta semana tem sido uma loucura. Na vinda, quase no meu prédio vi um velho a olhar para as árvores, na rua. A noite aqui é um pouco fria, e o velho estava apenas com uma camisa. Achei estranho ver um olhar tão atento para as árvores, especialmente no frio que ali estava.

Mas, com a pressa de chegar a casa, não me detive mais a olhar para ele, e vim para casa - quase como se estivesse a correr de bicicleta. Mas aquele senhor, de qualquer forma, atormentou-me... Como é que uma pessoa pode ficar tanto tempo a contemplar árvores? E, no entanto, ele ainda está lá fora... a olhar para um pinheiro.

Vender Segurança e Estabilidade

Eu já há algum tempo que tentava vender o meu produto, mas ninguém comprava. Eu sabia que não tinha nada de novo, que as massas não iam beneficiar especialmente ou que era mais uma das coisas certas que precisavam de ser feitas. Mas para qualquer Homem alcançar a glória em vida e segurança, é preciso fazer-se dinheiro.

Resolvi pôr o meu plano B em acção.
Fui a casa de uma pessoa conhecida, uma referência mundial do área de entretenimento, sem ser convidado. Para evitar quaisquer rejeições, levei comigo duas pessoas fisicamente fortes. Ao abrir-me a porta, a senhora foi atingida por um golpe de punho na zona do diafragma, que a obrigou a curvar-se, lutando consigo própria por respirar, como uma pessoa no fundo da piscina que nada desenfreadamente para chegar à superfície. Um pontapé na cabeça e caiu para dentro de casa, na qual entrámos fechando a porta nas nossas costas, e impedindo-a de gritar por socorro.

Filmámos tudo e enviámos a um canal de televisão por uma boa quantia de dinheiro. Como estávamos mascarados, e como todos os sistemas têm falhas, nunca fomos descobertos.

No dia seguinte, a minha loja estava cheia de clientes.
Raquel, amo-te!