A assobiar, cantar e a fazer passos de dança, saí por essas ruas frias e escuras desta pequena cidade, neste cantinho do Mundo. Particularmente feliz por estar a conseguir controlar a minha vida, sem baixar a guarda e surpreender pelas partidas que as pessoas gostam de nos fazer, saí. E sabe bem ir dar uma voltinha, mesmo que esteja frio, já que estar sempre em casa acaba por atrifiar o espírito crítico e criativo.
É impressionante como somos pessoas egoístas, que queremos que todos estejam felizes connosco ou tristes, quando as coisas nos correm menos bem. Mas não é por mal. Simplesmente, é vontade.
Foi, assim, feliz que olhei as pessoas nos olhos, ciente de que eles estavam a passar por momentos não tão alegres quanto eu, ou pelo menos não sabiam a letra das músicas que eu estava a cantar. Tentei animá-los desafiando-os com os olhos, mudando de passeio, chamando a atenção com a presença de um protagonista que se sente no palco, a ser visto por uma platéia imensa. Olhava nos olhos. Porque é nos olhos que se vê. É com os olhos que se comunica, é com os olhos que se seduz, para se ter um sorriso, e para se ter, quem sabe, uma conversa? Mas as pessoas baixavam a cabeça.
Seguia, menos feliz do que estava, mas ainda feliz e motivado. Num rua escura, sem caras para seduzir, nem sombras para pisar, distraia-me a olhar para as montras das lojas já fechadas - mas que abririam dentro de horas novamente, num outro dia. Via cores e procurava anúncios de trabalho. Deparei-me com algo que me cativou e despertou a atenção: "Há leitão à barrada". Foi o Oásis no meio do deserto. Olhei para dentro da loja de luzes apagada para tentar ver, mas estava demasiado escuro. Será que aqueles que passam naquela rua de dia, sabem o que há ali? Será que eles algum dia vão saborear o verdadeiro sabor da comida?
Continuei a olhar as montras, novamente no topo da minha felicidade - ainda que com fome, frio e sozinho, porque há outras coisas que também nos alimentam e dão força - cantando mais alto para acordar aqueles que cedo se deitaram. Fui para a High Street e partiu-me o coração ver o centro da cidade completamente deserto. Aí, abrandei o passo e olhei à volta, devagar, para perceber o que é que tinha acontecido. Porque eu tenho a certeza que, naquela mesma rua, já tinha visto imensa gente, a comprar, a falar, a passar. Tanta gente que me tinha de desviar, para não irmos uns contra os outros, naqueles dias em que andar aos zigue-zagues é mais rápido do que andar em frente com tímidos "excuse me"s. Mas estava deserta. Tentei perceber porquê, porque é que não só ninguém estava feliz, como nem se manifestavam. Será que há algo que eu não sei? Será que eu não tenho razões para estar feliz? FALEM COMIGO!! ALGUÉM??
Olhei para o lado e vi numa montra "It's on the 14th of Feb!". Na solidão da noite fria de Inglaterra, só as montras é que falam connosco, só elas é que falam as mensagens que lá foram postas por alguém que também fugiu. Foi aí que eu percebi... tínha-me esquecido completamente! O Natal já tinha acabado, os produtos voltaram aos preços normais. Por isso é que não havia ninguém na rua.
1 comment:
Gostei !
Apesar do título, quando estava quase a acabar de ler o texto, estava à espera de um fim muito mais sentimental.
Até me ri, quando acabei de ler =)
A sociedade irrita-me em muita coisa. E esta é de facto uma delas.
Também eu gostava de destruir esta sociedade capitalista, mas pelos vistos ando por aí perdida numa escada. Eu e a minha avó!
Talvez um dia a largue da mão.
Ou talvez já a tenha largado...
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