As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Saturday, 16 February 2008

Espectáculo de rua

Já todos lhe tinham perguntado quando seria a sua próxima proeza. E o que seria desta vez? A última vez foi com fogo, a anterior tinha sido com facas, que poderá ser mais difícil, mais desafiante do que isso?

Ela, na verdade, sentia que não merecia aquela gente toda. Aquela multidão que a cercava e fazia pressão. Que batia palmas para continuar, para continuar a avançar, para arriscar e brincar com coisas ainda mais perigosas. E ela não queria mais. Mas as pessoas batiam palmas, e motivavam cada vez mais alto, cada vez mais alto estavam os cartazes, e ela leu-os logo que os puseram no ar. E eles sabiam disso.

Mas o povo precisa de alguém que seja forte por ele, alguém que consiga carregar o seu bom nome às costas e erguê-lo bem alto, onde todos no estrangeiro possam ver quem são. E de forma a que todos possam descobrir quem são.

A pobre criatura foi embalada por aquele vento que saía da boca das pessoas. Pousou as suas coisas e começou a pensar no próximo número. Queria agradar a todos. Queria ser o símbolo nacional, tornar-se imortal, realizar o sonho que muita gente gostava de ser, mas - e mais que tudo - não queria desapontar tanta gente, já que lhe tinha depositado tamanha confiança.
Assim, foi buscar o livrinho de truques e procurou o truque mais complicado. Silêncio da parte de todos.
Era o malabarismo com fogo e facas. Este tinha a particularidade de ser mais difícil, porque as facas afiadas e os bastões em chamas não pesam a mesma coisa, sendo o equilíbrio mais difícil. As pessoas na fila da frente conseguiram ver a imagem da página que ela estava a ler e começaram a gritar de felicidade. As pessoas atrás perguntaram o que se passava e eles passaram a mensagem. De súbito, o público já estava todo em pé a bater palmas, outra vez, e ela ainda nem tinha decidido se ia fazer. Mas o público já...

Com nevoeiro nos olhos, agarrou nos objectos e atirou-os ao ar.

As pessoas sairam andando, em silêncio, caladas. Chegou a ambulância, puseram-na na maca e levaram-na para o Hospital. Quando foi atendida, 20 minutos depois, a médica assustou-se ao vê-la. Respirou fundo e, depois de ter ganho coragem, perguntou-lhe o que é lhe deu na cabeça para assumir tal risco, se pensava que era o Messias. A jovem malabarista, entregando as suas últimas palavras, respondeu: "Não sei...".


E a médica tinha estado lá, na primeira fila.

7 comments:

calminha said...

realmente faz pensar porque que as vezes pomos em jogo a nossa vida perante os outros.A mim deu-me que pensar , e parabens continuas a escrever muito bem

NiNa said...

:)
O que agumas pessoas fazem apenas para agradar a outras...obrigada pela visita! e parabéns continuaa escrever!
**

Anonymous said...

A vontade de agradar ou de ser estrela?

Teresa Raquel said...

Mas ninguém sentiu na pele.
Se ela passa por isso passa por tudo. São cetas que te atingem para verem o seu próprio sangue a escorrer novamente.
a médica nunca seria inútil, embora se sentisse impotente perante tal façanha.

Teresa Raquel said...

*setas

AMO-TE?

Anonymous said...

Esta frase é absolutamente espectacular: "Mas o povo precisa de alguém que seja forte por ele, alguém que consiga carregar o seu bom nome às costas e erguê-lo bem alto, onde todos no estrangeiro possam ver quem são. E de forma a que todos possam descobrir quem são". É absolutamente verdadeira! Somos realmente muiot fracos por deixar os outros fazerem as coisas por nós! Igualmente mau é quem faz só para agradar... =/

Mil said...

Trully an inspiration..