As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Saturday 16 February 2008

Uakti

O Rio Negro é um afluente do Maior Rio do Mundo - o Amazonas. O Rio Negro fica no coração do Brasil, numa zona aonde há muito tempo houve uma tribo de índios Tukano. Nessa tribo, havia um ser mitológico chamado Uakti cujo corpo estava repleto de furos, aberto em buracos.
A lenda conta-nos que com o passar do Vento, o corpo de Uakti imitia sons magníficos que encantava todas as mulheres da tribo, atraindo-as.

Os outros índios, encolarizados pelo ciúme, perseguiram-no e mataram-no, acabando por enterrar o seu corpo musical na floresta. Aonde ele foi enterrado cresceram altas palmeiras lutando por chegar ao céu.

Fizeram-se instrumentos musicais dos caules dessas palmeiras, que voltaram a dar ao Mundo som suave e melancólico ao que o vento soava ao passar pelo corpo de Uakti. Reza a lenda ainda hoje que as mulheres ao ouvirem esse som estarão impuras e serão tentadas.

O próximo texto, tal como a música desta semana, é em memória de Uakti.




Descalço e com pouca roupa passeio a minha pele vermelha à beira do rio, no calor da única Estação do ano. Molho os pezinhos e deixo que o vento me abrace, envolva, penetre, perfure. Vejo as mulheres de pele pintada no outro lado do rio. Elas pararam de lavar a roupa e de colher os frutos das árvores. Pararam e olham para mim. Olham e chamam-me para a outra margem. Querem tocar-me, querem ouvir-me mais de perto. Querem que as leve para o momento espiritual que poucas vezes na vida alcançam.

O rio, largo e profundo, molha-me os pés com a sua água morna. As árvores dançam ao som da minha música. Fazem-me vénias, mesmo antes de eu acabar o meu passeio. O Sol olha-me de cima e vai beijando-me a pele morena, sempre morena graças aos seus beijos. Estou apaixonado pela Natureza e o meu grande amor é o Vento. Oh, Vento, não pares de soprar.

Os homens, do outro lado do rio, vêm deslizando nas suas canoas feitas de canas, na minha direcção. Essas canas irão dar flautas, e essas flautas sons magníficos. Mas, por mais que esses homens queiram calar o meu canto, jamais calarão as flautas que de mim nascerão, das canas que ainda não fizeram canoas. Venham, amigos, venham.

Venham e dancemos e cantemos juntos. Cantemos mais uma vez antes de nos calarmos para sempre. E tu, Vento, não pares de soprar.


Sopra para sempre!

5 comments:

Rp said...

A cultura indigena é realmente fascinante! Bom fim de semana!
abraços

Laura said...

chegou a ventania! Eu
claro que o vento faz parte de todos, dos montes das gentes das ruas... e claro que há quem o adore e o deteste, enfim...
Uakti nome lindo, adoro terras fascinantes, e já vivi em muitas pelo mundo.
já pisei Brasil África Espanha França Suissa ilhas Canárias, Madeira, Angola Congo Belga Africa do sul e muitos mais, turkia...mas áfrica e a terra vermelha sempre me fascinaram. beijinho a tie outro para o vento...

Teresa Raquel said...

Inspiras-me mesmo sem saberes.

Anonymous said...

Talvez o mellor post de sempre...

calminha said...

Gostei tanto de ler, é mesmo poesia em cada palavra, que bom se fossemos capazes de sentir como eles , os sons , a natureza , a vida...belo...uma boa semana