As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

"Seja bem-vindo quem vier por bem!" e "se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente!"

Recomendação Sonora

Monday, 19 January 2009

Deus é Artista

Deus é artista porque fez o homem à sua imagem. Aqueles que falam de coisas que não entendemos não são artistas. A arte é o poder da comunicação através dos sentidos. Muitos artistas morreram incompreendidos, porque não eram artistas (do seu tempo). É preciso alguma meditação e sensibilidade para se perceber muita coisa. E quem alcança o sublime virá a descobrir que não havia nada a ser descoberto. Por mais ambíguo que isto pareça, quando se apercebe que a violência - por exemplo - não leva a lado nenhum, uma pessoa torna-se pacífica.

hmm O Oceano Pacífico é o mais violento de todos, quer pelos terramotos, tempestades ou Anel de Fogo. Acho que a cor azul, apesar de tudo, fica bem no planeta Terra.

Deus é artista porque fez o homem à sua imagem. Mas para os cépticos, o Homem é que é o artista, já que fez Deus à sua imagem.

Haverá sempre mais do que um lado, e particularmente haverá um que negará o outro. Da mesma forma que há fetos que já nascem mortos. Ou as mulheres que não podem engravidar. Ou os caminhos cheios de água que nos fazem pisar a relva. Não percebo muito a ligação da última frase, mas ando pouco preocupado com o que faço.

No meio do certo e do errado, da maioria e minoria, existe uma grande dor de cabeça. Pode ser uma dor de cabeça poética que demora a passar (muitas vezes é com ela que se morre), pode ser uma dor de cabeça física que pode ser curada com comprimidos. A minha é um pouco das duas. Haverão outras, mas se as tenho, tal é a dor que já nem as sinto.

Dizem que a época de Natal é a mais difícil do ano, porque as pessoas pensam o quão injustas foram durante o ano inteiro. Mas o que é justiça senão a regulação da vontade? Começo a acreditar que a maioria do ser humano está destinado a ser mau caso não contrarie o sistema no qual está inserido.

Que dores de cabeça horríveis. Não posso ir para a escola amanhã, não posso. Estamos a dar sonetos de Shakespeare, vejam a ironia do que escolhi: conta a história de uma pessoa que se deita, mas que não consegue dormir, porque tem sempre alguém na sua mente. É difícil mantermos a mente connosco, tanta gente que a quer, para ao fim nada fazer com ela. Que dores de cabeça... Será que levaram mesmo a minha mente, que isto são réplicas dolorosas do meu oco crânio? Levaram-me o cérebro e gritaram-me ao ouvido deixando um eco que não percebo.

Compreendo bem as influências romântico-suicídas do Shakespeare. Eu próprio sinto-me como ele, daí tal escuridão nos nossos textos. Nós todos somos o Shakespeare se dermos à vida o mesmo tipo de reflexão. Vejam a coisa de outra perspectiva, pode ser que faça mais sentido: o Shakespeare era um de nós.

Um de nós, um dos nós. Dos nós das caravelas portuguesas que espalhavam a palavra pelo Mundo e uma mensagem que ainda se falta cumprir. Por mim, espero bem que nunca se cumpra, porque o Mundo não pode ser de ninguém, nem a língua. Só gostava que tivéssemos os mesmos sentimentos, que todos sentíssemos de formas idênticas, para haver mais amor, ajuda e compaixão entre todos os filhos de Deus. hmm É sempre o sentimento vicarious (lá se vai o meu português) que nos ilude com as emoções dos outros. Paga-se para termos sensações com as emoções de outros. Como se houvessem coisas que pudessem ser medidas, quanto mais quantificadas e valorizadas.

Proponho uma sociedade sem dinheiro.

Gosto das coisas que o meu sofrimento me traz, como este tipo de pensamentos filantrópicos e humanistas, com uma religiosidade de um ateu alcança com dores de cabeça. Tal como quando se peca se reza, acho que é assim que eu pago pelos meus pecados: a pensar. hmmm As dores de cabeça...

Quando pararem, daqui a dois dias, pode ser que me tenha esquecido disto tudo, que volte à minha rotina social, castradora de liberdade. Pode ser que sim. De qualquer das maneiras fica já aqui escrito o que penso de mim agora. Sei que estamos em constante movimento, mudança. Mas será que haverá assim tanta diferença entre a pessoa que escreveu este texto e a pessoa que o lê - ainda que seja a mesma em momentos diferentes da sua vida?

Se eu terminar este texto como uma pergunta, estou a deixar tudo em aberto, a iludir a uma reflexão individual de cada um - acabo por ser um demagogo, o verdadeiro professor filósofo. Se eu deixar um final claro, como quem fecha a esquadria, estou a manipular um pensamento que os mais preguiçosos podem agradecer por estar a poupar-lhes o trabalho de pensar, ou então podem discordar - e acabaria por ser um pedagogo, um professor que acabaria por ser traído, porque nada se resume a tudo o que ele diz. Mas eu não quero agradar, só quero que a dor de cabeça passe.

Deixei a comida (a primeira refeição quente que faço em quatro dias) no fogão. Está a fumegar e a dar cheiro à casa. Eu tenho o nariz entupido e vou ter de descer para a comer, comida sem sabor. Ando a apagar linhas que aqui escrevo. Sou a censura ou a sabedoria.

Aqui me entrego à subtileza deste final, trágico como não podia deixar de ser, nos olhos de um cego que a única coisa que vê é um fantasma na sua cabeça. Nunca chega a perceber se é o seu pai, a sua mulher, o seu bisavô de onde vem o seu nome, a sua filha que está para vir ou se é ele mesmo. E, apesar de assustador, ele já não tem medo. Vive em plasticina inútil e manipulada.

1 comment:

paula said...

"O Homem é que é o artista, já que fez Deus à sua imagem."

Antes fosse...