As cócegas podem fazer rir, mas também podem irritar muita gente.

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Recomendação Sonora

Wednesday, 7 January 2009

A fragilidade da mulher forte seduz-me e faz-me mais fraco do que ela

As coisas que se passam na cabeça de Filipa, de quarenta anos, podem assustar qualquer Messias, quer pela obscuridade, quer pela sinceridade. Há uma grande ligação, uma forte ligação entre ela e as pessoas que ela ama. Não é por as amar ou por ser recíproco, mas talvez por ela ter um sentimento de culpa que mina a sua cabeça todos os dias, faz com que ela se ligue fortemente àqueles que a tratam com carinho - como se tivesse a pedir desculpa - devolvendo esses mesmos carinhos, acabando por se apaixonar.

Aos quarenta e um ano resolve, ela, então, abrir a carta que tem desde há já algum tempo. A carta traz o resultado de umas análises de sangue. Ao que parece, tinha ela vinte e poucos anos quando engravidou. O que ela nunca contou ao seu então já marido é que ela tinha-o traído, numa noite com as amigas, noite errante, e aquela gente que hoje faz em breve dezoito anos tanto pode ser de um homem, como do outro. A verdade é que ela sabe - as mulheres têm sentidos que os homens não - perfeitamente que o filho não é do pai, ou seja, o pai não é o pai do filho, que é como quem diz: nem um nem o outro sabe que não se pertencem. Talvez por essa ansiedade desgostante que a mói, ela passou toda a sua juventude ignorando (ou a tentar) - pois as mulheres têm sentimentos que os homens não conseguem; deixo a cabo leitor do leitor escolher se me refiro ao que está entre parênteses ou ao que está fora - aquele pedaço de papel embrulhado em outro pedaço de papel, tanto um como outro pedaços de árvore já foram. A juventude de uma mulher tem um valor eterno que só a toda raça humana e a Mãe-Natureza podem lutar por perceber, já que fazem parte de uma fracção mínima desse ser: a mulher. E se a mulher é um infinito de valores e amor, o corpo da mulher na sua juventude é tudo o que há de melhor no Universo. É a Beleza da Lua fresca de prata que procura o quente do corpo do Sol de bronze.

Se uma mulher depende de um envelope fechado sem nunca o abrir, não se libertará jamais. É preciso ser aberto. Hoje, aos quarenta e um anos, abre o envelope para descobrir que perdeu a juventude. Realmente, o Pai da criança sempre foi o Pai da criança. Aquela criança que dentro dela cresceu para um dia vir a nascer com uma boca carente procurando os seus peitos; aquela criança é que nunca foi dela.

A carta ficou salgada e a mãe ficou órfã de filho e marido.

1 comment:

M. said...

gostei muito deste.

aquilo que se perde...

gosto do teu elogio feminino, gosto mesmo.

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