Há dias em que chove tanto que, se não soubermos nadar, afogamo-nos todos no grito imperceptível que nem nos diz que é amor ou ódio. Gosto de chamar a esses dias de Inverno "Dias de Inferno". As águas das chuvas, juntas com as lágrimas daqueles que causam os dilúvios, invadem as nossas ruas, os nossos sonhos e matam alguns dos nossos queridos. Há uns iluminados que com sucesso transformam-se em bóias e flutuam, e, independentemente do nível que a água atinja, flutuam para cima e para baixo. Há muitos que desesperados se agarram àqueles que têm bóia, mas estes muitas vezes rejeitam quem lhes pede ajuda com medo que se afoguem todos - é o próprio objecto cheio de ar que os rejeita.
Hoje é sem dúvida um desses dias. Cá ando, sem bóia, mas também sem me afogar. Eu nasci num mês de Março e sou um peixe - eu causo e nado no dilúvio. A pessoas como nós, é uma questão de tempo e treino até aprendermos a transformar a água em bolinhas de ar, bebendo não para saciar a sede mas para se deslocar. A nossa sede é outra. E para ser saciada, tem que se engolir muita coisa.
Um dia vamos todos encontrar alguém que pesque alguma coisa disto. Até lá, atirem água, molhem as nossas cabeças, tentem levar as nossas escamas, cuspam-nos nas guelras. Porque a memória de um peixe é dois segundos e a sua missão de vida é vencer.
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4 comments:
espero que a arca de noé apareça aí1
espero que a arca de noé apareça aí1
espero que a arca de noé apareça aí1
HA! ;)
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