Quantas vezes me deito cansado e só aí me surgem as ideias. Não sei se é o silêncio, se é a inactividade, ou se é o cansaço. Tinha uma professora que deitava-se sempre a ler um livro. Imaginem as ideias que ela tinha na sua leitura. Ao lado da cabeceira também tinha um bloco de notas, e escrevia aí tudo. Eu na minha cabeceira, deixa-me ver, tenho um copo vazio há uma semana, cosméticos, uma lâmpada e um candeeiro que não funcionam e umas fotocópias de técnica teatral. Não sei que tipo de notas é que ela tomava na cama, já que não escreve... Talvez ideias para as aulas. Somos todos diferentes, por isso temos todos ideias, apesar de muitas vezes não sabermos quais são as do vizinho.
Cliquei duas vezes no Enter e vim parar a este novo parágrafo. Muito sinceramente não sei o que hei-de escrever. Costumo reflectir sobre os meus textos, tendo um slogan ou outro, que geralmente surge quando estou a ler ou a tomar banho. A cor branca da banheira é uma tela de palavras na minha cabeça. Hoje acordei com dores de cabeça, há sempre uns dias da semana em que como mal e é com o corpo que pago. Descobri hoje que o dinheiro que tenho para as próximas 3 semanas nem sequer chega para pagar a renda, que já vai com uma semana de atraso. Em Inglaterra, não convém brincar com o fogo, porque esta gente atira-se a nós se ainda estamos a escolher a caixa de fósforos. Oh... com que medo vivemos. Estou a escrever de improviso, sem nenhuma linha de pensamento. Acho que é evidente, não sei. Tenho os sentimentos e objectivos bem organizados na minha cabeça, sou uma pessoa de muita reflexão, especialmente política, e na minha tentativa de improviso pode sair toda uma tese. Hmm... Esta consciência de me poder estar a gabar. Ainda não descobri como é que ser sincero pode não magoar os outros.
Estou a escrever, porque é uma das poucas oportunidades que tenho durante a semana. Ando desde sexta-feira a pensar em algo para escrever, mas acabo por censurar muito dos temas, ou porque dão uma imagem de mim que quero mudar, ou porque acho que ... qualquer coisa que agora não me lembro. Enfim, é Domingo à noite, amanhã começam as aulas e mais uma vez, vou aprisionar a mente.
- Porque é que não pões pontuação?
- E quem sou eu para pôr pontuação nos meus próprios textos?
Escrevo, porque é agora ou nunca. Depois de serem torturados durante meses, como poderão os homens sorrir quando lhe contam uma piada?
Ando a ser torturado há anos. Ando há anos nisto. As poucas vezes que tenho para sorrir vêm estabelecidas num calendário, tornando tudo tão previsível. Vejo o dia do sorriso a aproximar-se, mas desta vez não consigo pensar em nada para me rir um pouquinho. Só um pouquinho. Para que as pessoas não olhem para mim como uma mente disforme que só se lamenta e tão pouco dá confiança. Mas nós somos os miseráveis. Eu sou um miserável. Isto pode ser apenas por causa da dor de cabeça. Mas, mais uma vez, sinto o meu corpo a ser levado por alguém que não é de confiança.
Estou apaixonado pelo sofrimento. Cada chicotada é um alívio, um suspiro, porque já passou e é menos uma. Menos ou mais uma? Menos uma... A vida é em contagem decrescente. E por mais reflexões que faça, não consigo me exprimir. Ando a sentir o peso da humanidade e não estou preparado para tanto. Tanta coisa em tão pouco tempo.
Esta é a última linha que escrevo hoje e não tem nem muita, nem pouca força: está cá como eu, como se não estivesse.
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4 comments:
Curioso, eu também encontro inspiração quando tomo banho. Tenho várias explicações para isso, mas todas dariam de mim uma imagem de convencido, pelo que me vou ficar apenas pela básica, o contacto com a água.
Abraço e nada de abusar das chicotadas!
é capaz de ter sido dos textos que mais gostei, teus.
é peito aberto, sem o ser. e ainda assim é simples.
sorri hoje, mesmo sem ser feriado disso
beijinho*
Gostava de ter sido eu a ter escrito isto
parabens de novo.
sobre que posso falar neste comment?
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