Despedimo-nos, porque a vida é curta, para mim a fome muita e o supermercado enorme para ser percorrido, para eles que estão de férias e não precisam de férias das caras que vêem todos os dias, e sigo rua abaixo. Ao passar numa das vitrines vejo esta cara:
e não hesito em tirar duas fotografias com o telemóvel.
Agora, qualquer pessoa que veja esta cara fica logo bem-disposta, não há dúvida. Há qualquer coisa de mágico na publicidade que faz as pessoas querem entrar nos estabelecimentos comerciais e comprarem, gastarem dinheiro (psicologia).
Esta figura tipificada é o protótipo da imagem de um vendedor auto-motivado com um desejo incontrolável de agradar o cliente.
e não hesito em tirar duas fotografias com o telemóvel.
Agora, qualquer pessoa que veja esta cara fica logo bem-disposta, não há dúvida. Há qualquer coisa de mágico na publicidade que faz as pessoas querem entrar nos estabelecimentos comerciais e comprarem, gastarem dinheiro (psicologia).
Esta figura tipificada é o protótipo da imagem de um vendedor auto-motivado com um desejo incontrolável de agradar o cliente.
Até aqui tudo bem, e vamos até avançar mais no assunto, analisando o seguinte poster, ainda na vitrine da mesma loja:
Aqui, sem papas na língua, temos o mesmo "felizardo" com uma expressão que assusta qualquer criança: um sorriso que passa do contente e bem-disposto ao ridículo, à auto-destruição de qualquer seriedade, resumindo: ao palhaço. Ao palhaço, à pantomima, ao mimo, ao arlequim, enfim, à imagem que todos conhecemos. Se não conhecem, é esta aqui do lado. Sabemos que a publicidade, as campanhas de publicidade fazem coisas fenomenais, desde viagens criativas ao interior da Terra a este tipo de comicidade que é feito há mais de dois mil anos - e ainda resulta.
Qualquer tipo olharia para o cartaz e das duas uma: ou ria-se e ia-se embora, ou ria-se e entrava. Eu, pelo contrário, fiquei chocado. Como expliquei no e-mail que enviei ao meu avô no início do ano lectivo, eu vim para cá no segundo dia de aulas, directo da lista de espera para o ano seguinte, devido a uma desistência. Vim para cá a convite do director do meu curso que acima dele só tem uma pessoa: o lendário director da escola. Ora, ele não mandou-me o convite ao calhas, porque já não havia vagas quando fiz a audição - coisa que, sendo ele o professor que dirigiu toda a minha audição (exceptuando o monólogo de Shakespeare), nos explicou mesmo antes de começarmos com o aquecimento - e havia mais gente na lista de espera. Ele conhecia-me, gostou de mim, chamou-me e eu vim. Ao chegar à East 15, correm-se grandes boatos sobre o Uri Roodner (é o seu nome) que me instigam a curiosidade em ver um espectáculo dirigido por ele - coisa que foi confirmada quando ele dirigiu o segundo ano do curso de teatro contemporâneo, o senhor é um génio.
Voltando atrás, à imagem da publicidade, que é aonde eu quero chegar: aquele fulano é o Uri! Para mim, enquanto artista, é um ultraje, é um crime! Meter um professor conceituadíssimo a fazer publicidade ridícula! Uma pessoa que defende um teatro de Arte, que defende uma visão que só alguns cegos podem ver, a entregar-se, a vender-se... àquilo, a uma indústria de máscaras ocas e cores berrantes. E porquê, por dinheiro? Eu próprio já fiz publicidade, já fui cara de cartaz, já fui cara, corpo e imagem de campanha, mas nunca me ridicularizei àquele ponto. Logo eu, um estudante enrascado, sempre a contar os trocos como qualquer outro estudante. Há uma dignidade em mim que nunca permitiu que isto acontecesse. Lembro-me de fazer castings para anúncios ridículos e de nunca ter entrado. A pensar nisso, vejo que nunca me surgiu uma oportunidade de negar um anúncio desses, pois o meu perfil nunca foi aprovado para esses projectos pelos directores de casting. Será que eu aceitaria, se fosse por um bom dinheiro? Há outra diferença, que é que em Portugal o dinheiro que um actor recebe em publicidade é cerca de dez ou vinte por cento daquilo que se recebe em Inglaterra, tendo o Uri recebido tranquilamente mais de Vinte Mil Euros - Quatro Mil Contos. Isso será o equivalente de dois ou três meses de trabalho intensivo para o professor na Escola e podendo reduzir esse esforço a um dia de filmagens [aqui o anúncio televisivo] e fotografias, porque não? Quem dera a muita gente poder fazer figura de parvo e receber aquela quantia de dinheiro.
Porque inevitavelmente, é o dinheiro que faz esta sociedade mover. É o dinheiro que nos faz sair da cama cedo deixando para trás uma mulher linda, despedida que nos pede para ficarmos mais um pouco. É tudo por causa da necessidade de fazer dinheiro, para depois podermos ser seduzidos pelas cores, voltando à estaca inicial. O Uri faz anúncios para a loja de vitaminas para dias mais tarde poder entrar na loja e levar as vitaminas que quiser. Os fins justificam os meios, mas quando não há limites, quando não há fins, só ficam os meios.
Mas, mais uma vez, cá estou eu a dramatizar. Afinal de contas, o Uri não deixa de ser o grande senhor que é, não deixou de ser mais inteligente, culto, sensível e criativo do que era. Simplesmente foi mais espero e com pouco trabalho arrecadou mais uns trocos valentes ao bolso. Para me dar uma estalada de luva branca, o ideal seria ele levar os alunos do seu curso (incluindo eu) para uma visita qualquer a um teatro desses de grande nome em Londres. Isso é que seria o ideal.
Eu conheço bem a mentalidade inglesa que, nestes termos, não é muito diferente da do resto do Mundo, incluindo a do povo de onde venho. Essa viagem ao teatro não vai acontecer, nem qualquer tipo de investimento à arte. Esta escola forma actores, não forma artistas. Forma profissionais de alto nível. Ensina artifícios e técnicas para os novos pintores poderem fazer as casas mais bem-pintadas, no menor espaço de tempo, em dinheiro de qualidade. Eu gosto daqueles que pintam quadros para si e para os amigos, sendo isso suficiente para os alimentar, sendo essas as verdadeiras qualidades por que lutam. Enquanto que aqui há pessoas que trabalham para uma indústria. E a indústria tem de produzir. Show must go on.
Mais um ídolo que quis sair da minha lista, preferindo entrar na de outros. Não é por maldade que tomo esta atitude, nem para impressionar, porque nada ganho - e muitos amigos já perdi. É que há uma voz dentro da minha cabeça que sussurra baixinho "A Verdade Não É Estatística". E é com essa voz, que continuando na mesma rua, atravesso a estrada, paro no meio do trânsito em movimento para apanhar uma moeda de dois pence, continuo e entro aonde no Morrisons.
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